Nas partes anteriores, analisamos especialmente a Última Ceia para detectar todos os códigos secretos empregados por Leonardo da Vinci para ilustrar seu Hermetismo, representando na personagem de Hermes, o deus grego do conhecimento, que influenciou todas as doutrinas espiritualistas do nosso tempo, bem como dos tempos do Renascimento, marcando especialmente as páginas da Gnose grega, às quais Leonardo recorre em seu tributo a Platão.
E voltando a explorar mais um pouco a Última Ceia, percebemos que, além da efígie de Platão que ele reproduziu na face do apóstolo Simão Cananeu, na extrema direita da mesa, aparece, na posição oposta, extrema esquerda, a imagem reproduzida de Aristóteles na face do apóstolo Natanael ou Bartolomeu, também conforme esculturas e imagens antigas.
Repare a ligação que Leonardo estabelece entre essas duas expressões máximas da sabedoria grega antiga, e enquanto Simão Cananeu ergue seus braços, e em atitude de discurso (com os apóstolos Judas Tadeu e Mateus ao seu lado), o apóstolo Bartolomeu, que está na sua direção, parece olhar não para Jesus Cristo, e sim, para Simão, o que representa que Aristóteles está escutando a sabedoria de Platão (também preferida por Leonardo).
Inclusive, há uma grande pintura realizada na mesma época por Rafael Sanzio, chamada A Escola de Atenas, que repete o mesmo tema, e no centro de uma grande Academia com muitas presenças ilustres (Pitágoras, por exemplo), estão estas mesmas duas personagens maiores da sabedoria grega, Aristóteles e Platão, e com as mesmas aparências que Leonardo da Vinci usou para pintar seus apóstolos das extremidades da mesa, Bartolomeu e Simão Cananeu.
Existe também um desenho de Rafael da Monalisa de Leonardo, o que prova que este grande pintor admirava a obra de Da Vinci, e de alguma forma estampou o código do Mestre na sua pintura “Escola de Atenas”.
Como Leonardo era um tanto obcecado pela Androginia, me parece ter pintado Tiago Maior e Tomé um tanto próximos demais, como que sutilmente retratando gêmeos siameses, quase um corpo com duas cabeças. Noutra pintura, Santana e Maria, e também num esboço do mesmo tema, esse mesmo apelo de corpos muito unidos como num andrógino de duas cabeças é realizado, e até a aparência de mãe e filha não se parece como de mãe e filha, mas como de irmãs (gêmeas).
Outro destaque para Tomé é que ele é o único apóstolo que tem sua cabeça pintada contra uma abertura ao fundo do salão (uma janela) ao lado de Cristo, que aparece diante de uma porta aberta: Eu Sou a Porta).
Então, a Luz é o caminho indicado pelo dedo de Tomé, além do código binário (alquímico) envolvido, como vimos nas partes anteriores.
Desconcertante é o fato de como João foi pintado com o corpo se afastando da outra janela aberta, e com um semblante de dor ou desgosto, também fazendo um contraponto a Tomé na imagem geral.
Então, aquele dedo unitário de Tomé na Última Ceia fala da unificação de muitas coisas, desde a razão com a mística(Aristóteles e Platão) para se alcançar a nota da elevada espiritualidade, coisa que a Igreja da época se recusava a fazer, congelada no racionalismo aristotélico e proibindo rigorosamente qualquer escola de pensamento inovador, situação na qual Leonardo se encontrava.
E atualmente, por uma sutil vingança inconsciente, é a ciência predominante que recusa qualquer aliança com o Dogma e sistema de crenças, com o Esoterismo e doutrinas espiritualistas em geral.
O misterioso espaço entre Jesus e João
João está ao lado direito de Jesus, e afasta seu corpo do mestre, para que Leonardo criasse um VAZIO proposital nesse espaço, justamente para chamar a atenção do observador, fazendo outro contraponto com o grupo da esquerda, o mais aproximado uns dos outros dos grupos de três apóstolos.
Repare na existência de duas letras nesse espaço: T e M, as letras de Tomé.
T é formado pelo batente entre a porta e a janela, e M, pelo traço completo dos corpos de Jesus e João.
E no alto desse batente vertical central, há um pequeno retângulo claro onde, provavelmente, Leonardo colocou inscrições, talvez desbotadas pelo desgaste da pintura de mais de 500 anos…
Interessante notar que as letras T M destacadas podem ser lidas como M T, e formam as letras que compõem o nome de outro apóstolo, Mateus, o terceiro, da direita para a esquerda. E como Leonardo, na relação com os doze signos do Zodíaco, colocou Mateus e Tomé em signos mercurianos, ou seja, Gêmeos e Virgem, reforçando outra vez o código hermético global da obra.
Além disso, a palavra MT no hebraico significa MORTE, ou Morto, o que pode significar uma alusão à primeira fase da alquimia, putrefação *ou morte transformadora, e sem essa etapa, o alquimista não conseguia o andrógino perfeito (mercúrio e enxofre) que realizasse a Pedra Filosofal na conclusão da grande obra.
A putrefação é um importante estágio (o primeiro) no processo alquímico, e tem profunda sintonia com os significados mais profundos da MONALISA, como veremos nas partes a frente.
E como João está bastante feminino (o que fomenta as teorias sobre Maria Madalena), Leonardo sugere o ponto alquímico de relação com Jesus, masculino, na polaridade clássica Sol-Lua (Enxofre e Mercúrio) de todas as combinações, na base da obra secreta de Hermes.
Outro detalhe fundamental sobre Tomé, e a forma como Leonardo da Vinci o retratou na Última Ceia: ele é o apóstolo mais oculto da pintura, aquele que está mais escondido mesmo, o que é intencional. Note, seu corpo praticamente se oculta inteiro atrás do apóstolo Tiago maior, o Sol (Leão), naturalmente o mais exposto e espaçado dos apóstolos (pela evidente relação com o signo de Leão), brilhando como um astro diante de Jesus, o centro do tema.
Esse ocultamento de Tomé, que aponta o dedo, como um indicador de caminho, é realmente uma alegoria da ciência oculta, que é sempre escondida, camuflada e codificada nas obras de Leonardo e de outros mestres que participam da mesma corrente.
De Tomé, só vemos a cabeça e a mão direita, mais nada, sem saber sobre suas roupas e as cores delas (as roupas dos apóstolos e suas cores também fazem parte do código geral da obra).
Mas repare novamente a relação de espelho entre Tomé e Judas Iscariotes, signos de Virgem e Escorpião representados, os quais a Astrologia antiga declarava como sendo um mesmo signo original repartido ao meio pela Balança (a Lei) que se colocou entre eles, o conceito do andrógino separado (Virgem, mercúrio, o feminino, e Escorpião, enxofre, o masculino).
A chave de Platão é a mesma, porque veio de Platão o mito sobre os andróginos como sendo a natureza “humana” original antes de serem separados em dois sexos pelos deuses, porque estes andróginos se tornavam muito poderosos! A chave de poder está e sempre esteve na androginia, por isso, ela se torna o alvo central da Alquimia: a Pedra Filosofal é um status andrógino de energia vital e mental capaz de realizar grandes prodígios.
Textos apócrifos afirmam que Tomé se chamava Judas Tomé, e que ele era irmão gêmeo de Judas Iscariotes!
E se Leonardo da Vinci colocou Judas Iscariotes e Tomé tão parecidos, e nessas casas e signos do Andrógino original separado, é porque certamente conhecida aqueles textos, e os empregou na alegoria alquímica aí descrita, com a mensagem de fundo: o dedo indicador de Tomé anuncia a via alquímica da união das metades separadas!
Por razões secretas não expostas nos evangelhos canônicos é que Tomé foi chamado O Gêmeo (Dídimo, grego) porque era realmente o gêmeo de alguém dentro do grupo apostólico. O gêmeo de Judas Iscariotes. Por isso, suas aparências são tão parecidas, e eles foram colocados nos signos das metades alquímicas, Virgem e Escorpião.
Essa é mais uma prova de que Leonardo realmente codificava conhecimentos proibidos (herméticos) pela Igreja de seu tempo.
E basta uma análise detalhada para descobrirmos tudo isso e muito mais!
São dois apóstolos com fama negativa. Judas, por ser o traidor, e Tomé, por ser o cético, o que duvidou da ressurreição.
E justamente os dois apóstolos que carregam esse segredo maior, essa traição forjada (porque Judas apenas representou o papel dos verdadeiros traidores, os judeus) e Tomé, que, como qualquer ciência, não acredita em nada até que possa testar, tocar, verificar o objeto de sua análise, o que tem bastante relação com o signo de Virgem e seus atributos principais.
A ciência de Tomé (Hermes) é uma ciência oculta, velada e coberta como o corpo de Tomé, atrás do Sol (Tiago Maior): e o planeta Mercúrio não se oculta ciclicamente diante ou atrás do Sol, em relação à Terra? Temos também um argumento astronômico válido aqui.
A ciência de Hermes, condensada no Caduceu, resgata a ciência perdida da PALAVRA que concilia os binários cósmicos no laço unificador, resolvendo o elo perdido de Platão e os andróginos separados no começo dos tempos, para que não vivessem para sempre e nem fosse tão poderosos quanto os deuses. Isso é semelhante a declaração do Gênesis 3, quando o Senhor YHWH declara que o homem caído (Adão) não poderia mais ter acesso aos frutos da Árvore da Vida, o que lhe significaria imortalidade e poder.
Há outra cena na Ceia, além de Jesus e João, que parece alegorizar essa reunião do masculino e feminino na direção do Andrógino, o real código da Vinci muito além de Maria Madalena.
Trata-se da cena envolvendo o grupo de apóstolos à direita do Mestre: João, Pedro e Judas Iscariotes.
Repare que o apóstolo Pedro coloca sua cabeça justamente entre João (representado com traços femininos, o que favoreceu a teoria de Madalena) e Judas Iscariotes, representação do masculino (Escorpião).
Pedro parece fazer a ligação aqui, afinal, foi ele quem recebeu as chaves da Igreja de Cristo na Terra e no céu, aquela que o Vaticano representa até hoje por duas chaves cruzadas, uma de ouro e outra de prata, fazendo alusão exata ao andrógino, este que é a chave do céu (Anjos são andróginos, são almas humanas que ascenderam ao céu em função de trabalhos com a alquimia mental em vida).
Mistérios que ecoam desde o casal original, Adão e Eva, retratados hermeticamente nos dois querubins guardiões da entrada do Éden, transpostos depois sobre a Arca da Aliança e dentro do Templo de Salomão, como simbolizando as duas colunas do Templo. Tudo isso é cenário hermético do mesmo segredo: o segredo da Androginia, a fonte da imortalidade divina.
Pedro não tenta “matar” Maria Madalena nesta cena, por ciúmes de Cristo, como afirmam os defensores da teoria madalenista, porém, ele simboliza o detentor das chaves da Igreja secreta de Cristo, aquela que é guardada justamente por João, e essas passagens só podem ser devidamente compreendidas com a leitura do Manuscrito O VÔO DA SERPENTE EMPLUMADA, entregue em 1945 ao mundo pelo próprio Judas Iscariotes a um repórter argentino nos tempos da II Guerra Mundial.
Pedro é o Sacerdote que oficializa o Hieros Gamos, porque Pedro é a Pedra, a base, e na qualidade de base da Igreja e do Templo do Espírito Santo, ele ensina as chaves secretas aos discípulos preparados para o Grande Magistério da Palavra, o Ventre donde emergem os deuses. Porque nos céus não existem metades espirituais, mas somente unidades completas em binários (Chamas Gêmeas) integrados pelo terceiro elemento, o laço do Amor eterno.
Na verdade, a faca de Pedro, empunhada com a outra mão (conforme vimos antes, reproduz a cauda do Escorpião, atrás do corpo de Judas) se volta não contra João, mas contra André, seu irmão, logo atrás dele, que eleva as duas mãos em sinal de espanto.
André, Andros, no grego, “homem”, aparece posicionado no signo de Capricórnio, o décimo.
Capricórnio é regido por Saturno, o raio da morte, e mais uma vez, de forma surpreendente, Leonardo da Vinci indica aqui o primeiro estágio da Alquimia em busca da Pedra Filosofal, a Putrefação ou morte.
O velho Homem, representado por André, deve morrer (na cruz) para que nasça o novo Homem (Jesus, e o andrógino).
E André foi retratado como um dos mais velhos apóstolos da mesa.
André, no signo X, Capricórnio, o raio da morte e a etapa VITRIOL, a descida do discípulo ao submundo em busca da pedra oculta (não confundir com a pedra filosofal, que é a meta final) porque a pedra oculta é o Ignis/Agnis secreto, a base de toda a obra, a pedra firme e cinzelada do discípulo casto e forte contra as tentações do Inferno, que se atiram contra a pedra mas não prevalecem sobre ela.
O próprio Jesus ilustra essa descida ao submundo no período após sua crucificação, antes da ressurreição, alegoria da busca pela pedra fundamental da reedificação do templo, que ele mesmo anunciou aos incrédulos judeus, ao dizer:
“Derrubem o templo, e eu o reedificarei em três dias!”
Por isso, André (o Homem) é ameaçado de morte por seu irmão Pedro, a pedra oculta, na primeira fase da Alquimia, que é a putrefação, que realmente leva o homem a morte dos defeitos como porta de transformação interior (Judas Iscariotes tem relação secreta com a morte do ego no drama crístico). Aliás, esse é um dos questionamentos que o outro Judas, o Tadeu, no extremo oposto do zodíaco, Touro, oposto a Judas Iscariotes, Escorpião, dialogando com Platão (Simão Zelote) a respeito de todos estes arcanos herméticos (sendo que Judas Tadeu é a representação secreta do próprio Leonardo na cena, alegoria de sua busca como Alquimista que era).
Na próxima parte, sequência desta, veremos outros códigos de Leonardo da Vinci sugerindo o Andrógino em diversas partes da Última Ceia, na verdade, em toda ela, configurando uma grande Tábua Hermética na fachada de uma pintura!
JP em 19.12.2019
Veja as partes anteriores:
O Verdadeiro Código da Vinci… muito além de Madalena – parte 1 – prólogo
O Verdadeiro Código da Vinci muito além de Maria Madalena – parte 4 – O Hermafrodita de Leonardo
O Verdadeiro código Da Vinci muito além de Maria Madalena – parte 5 – as visões de Leonardo
O Verdadeiro código Da Vinci muito além de Maria Madalena – parte 9 – o Santo Graal
O Verdadeiro código Da Vinci muito além de Maria Madalena – parte 10 – João Batista
O Verdadeiro código Da Vinci muito além de Maria Madalena – parte 11 – Hermes