Eu considero a Última Ceia de Leonardo da Vinci (obra muito apreciada e copiada depois por diversos pintores) como a chave mestra do código, aquela que possui o maior número de informações ocultas, uma espécie de Tábua Hermética do mestre.
E portanto, devo começar por ela a decodificação das suas chaves que estão muito além de Maria Madalena.
Antes de mais nada, estamos diante de uma representação zodiacal da cena dos apóstolos, o que seria outra heresia para a Igreja da época (se bem que a Igreja atual ainda sataniza a ciência da Astrologia, em sua ignorância dogmática. Pelo menos, não queima ninguém por praticar essa ciência fantástica).
Na definição zodiacal da Última Ceia, a ordem dos apóstolos em relação aos doze signos, de Áries (1) a Peixes (12) foi estabelecida numa grande mesa reta, da direita para a esquerda (a mesma direção de leitura dos idiomas semitas, como o hebraico).
E Leonardo mesmo escrevia de forma invertida, da direita para a esquerda, e só com espelhos ou prática era possível ler seus escritos… começa daqui. Em tudo tinha que haver um código, um enigma, um certo grau de dificuldade!
E esses doze apóstolos astrológicos estão divididos em quatro grupos de importância dentro de ações interconectadas no ambiente da Ceia, claro, centralizando em Jesus a ligação com o Sol central, e toda a perspectiva da obra converge para a sua pessoa, e como o olhar da Monalisa, todas as atenções sobre a pintura levam nossos olhos até ele.
A obra foi pintada entre 1495 e 1948 na parede da cozinha do convento Santa Maria da Graça, em Milão, na Itália, e quase foi destruída num bombardeio durante a segunda guerra mundial. Porém, suas tintas se deterioraram muito com o passar do tempo.
Vamos aos quatro grupos, da direita para a esquerda, e os signos relacionados na ordem:
Primeiro grupo
(1) Simão Cananeu ou Zelote – Áries
(2) Judas Tadeu – Touro
(3) Matheus ou Levi – Gêmeos
Segundo grupo
(4) Felipe – Câncer
(5) Thiago Zebedeu – Leão
(6) Tomé – Virgem
Terceiro grupo
(7) João Evangelista – Libra
(8) Judas Iscariotes – Escorpião
(9) Pedro – Sagitário
Quarto grupo
(10) André – Capricórnio
(11) Thiago Alfeu – Aquário
(12) Bartolomeu ou Natanael – Peixes
Essa é a antiga relação entre o Quadrado e o Círculo, como a disposição da Cidade Santa celestial no Apocalipse 21, forma cúbica mas com círculo de doze anjos, doze fundamentos e o nome dos doze apóstolos no entorno, e três portas em cada direção da cidade.
A Cidade Celeste na verdade é um grande cubo de aresta 12 mil (estádios), e o muro, 144 côvados… são medidas harmônicas que se relacionam a chave espiritual dos 144 mil eleitos.
Essa disposição do Zodíaco é descrita com detalhes no Livro de Enoque, apócrifo, no capítulo dedicado ao Anjo Uriel, que é o regente das estrelas, e a forma como ele explica o céu e as casas do Sol e da Lua, semelhante a um carro em movimento, são concepções antigas da esfera zodiacal empregadas no conceito pictórico da Ultima Ceia de da Vinci.
Jesus Cristo está no centro, seja como referência de sua divindade solar, seja como encarnação divina na Terra (modelo geocêntrico da Astrologia).
O Sol Cristo está ligado a todos os doze apóstolos/signos, e sua presença se irradia a todos eles, e a todos os cantos da sala.
A princípio, a cena desenvolve a reação imprevista de cada um dos doze apóstolos diante da declaração suprema da mesa:
“Um de vós irá me trair!”
Os quatro grupos estão divididos em níveis diferentes de reação.
Primeiro grupo: tensão e discussão
Dois apóstolos dão as costas a Jesus e se voltam para Simão cananeu: isso é intencional da parte de Leonardo, e contem grande parte do código dentro desta obra, como veremos.
Judas Tadeu e Matheus se viram na direção contrária a Cristo, e se dirigem de forma tensa a Simão Zelote, como se ele tivesse a resposta dos motivos da declaração suprema de Jesus sobre a traição.
Repare melhor neste Judas Tadeu.
Ele equivale ao signo de Touro e ele tem a exata aparência de Leonardo da Vinci.
Sim. Leonardo da Vinci se auto-retratou no apóstolo Judas Tadeu, a começar pela sua posição em Touro, porque este era o signo de Leonardo, e ele devia acreditar em Astrologia e mesmo professar esta ciência. Leonardo da Vinci dando as costas a Jesus, junto com seu companheiro Matheus (o retrato de Salai, seu fiel discípulo, como outros desenhos dele demonstram, como o desenho abaixo, muito semelhante a efígie de Matheus na mesa, ao lado de Judas – ou Leonardo auto-retratado).
O outro nome de Matheus era Levi. E Levi (LV, as iniciais de Leonardo da Vinci) foi pintado bem ao seu lado. Códigos sobre códigos…
Não exatamente a Jesus Cristo que Leonardo insinua essa posição, e sim, contra a Igreja da época. E mais, contra o Dogma impositor da Igreja da época, que limitava gênios, como da Vinci, em suas obras e escritos, sempre investigados, sempre cerceados pela Inquisição.
E quem personifica esse Simão Zelote, que parece ter as respostas para todas as indagações de Leonardo, não somente a respeito dos motivos da traição… e se bem conheço Leonardo, ele talvez quisesse dizer ao mundo que quem realmente traiu Jesus Cristo não foi Judas, e sim, a própria Igreja de seu tempo e de outros… desviada a tempos dos fundamentos do evangelho que falam de pobreza, caridade e perdão. A própria Igreja motivou guerras, levantou a espada e reuniu tesouros da Terra para si, sob diversas alegações justificadas…
Algumas teorias, e eu as defendo, alegam que este perfil de Simão Zelote corresponde exatamente ao perfil de uma estátua grega antiga do sábio Platão… e isso nos leva a parte vital do código dentro desta Obra.
Madalena?
Sim, ela está por ali, mas ela não é, nem de longe, o centro de gravidade do misterioso código da Vinci, como veremos. Participa dele, mas não é o foco.
Platão, esse sim, nos dirige ao foco.
É como se, dando as costas a Cristo, e se voltando a Platão em busca de respostas, Leonardo, auto-retratado no apóstolo Touro (seu signo) Judas Tadeu, Leonardo busca na filosofia platônica as respostas para suas indagações, pesquisas e buscas. Não na Igreja Católica. A mensagem não é uma ação contrária a Jesus, e sim, a Igreja que se proclamava a portadora da Boa Nova de Jesus na Terra. Leonardo, na verdade, reflete a indignação muda de muitos pensadores de sua época, sempre ameaçados pelos fogos da Inquisição.
Leonardo da Vinci faz parte de um grupo de pensadores da época que não se satisfaziam com o racionalismo aristotélico que regia os fundamentos da Igreja naquele tempo, migrando para a sabedoria platônica e sua Metafísica mais ampla e transcendental.
Vamos olhar melhor para o apóstolo Simão, que esconde na verdade o perfil de Platão e, num contexto geral, da filosofia platônica onde Leonardo buscou suas fontes. Ele ergue as mãos para o alto, aparentando incerteza sobre a questão. Mas olhe melhor a mão esquerda do apóstolo. A via esquerda eleita? Em aspecto de Alquimia, isso é compreensível.
Mas com a mão esquerda, o apóstolo desenha dois números. O Número três, com três dedos estendidos, e o número seis, com o polegar e o dedo mínimo num gesto que lembra muito os mudras budistas. Mas não acredito que a ideia de Leonardo fosse reproduzir ali um mudra.
E o que os números nos dizem?
Trinta e seis é o primeiro.
Olhe para o teto do salão. Existe uma estrutura em forma de Quadrado mágico, com 6×6 = 36 setores. Na magia cabalística, essa figura era associada ao Sol, cuja ordem, na Árvore Sefirótica, é seis (Tiphereth).
Trata-se de mais uma referência aos atributos solares (pagãos) de Jesus Cristo, na adaptação que a Igreja Católica fez da sua personalidade, para melhor veicular a novidade dos evangelhos aos povos já acostumados aos símbolos pagãos, como as divindades solares. Tudo indica que Leonardo da Vinci conhecia a arte da Cabala, outro segmento do conhecimento que o Dogma Católico repelia naquela época, associando-o ao Judaísmo.
Por tudo isso é que observamos por que Leonardo da Vinci em Judas Tadeu, ao lado do seu companheiro e discípulo Salai (em Matheus), não estão dando as costas a Jesus Cristo exatamente, mas a Igreja católica que o personificou, e ao dogma católico, ele e seu discípulo preferem ouvir as explicações de Platão, a luz de sua sabedoria hermética… e por isso, Platão (Simão) foi colocado em primeiro lugar na Ceia, relação com o signo de Áries (lugar que deveria ser de Pedro, o capitão dos apóstolos).
Porque em primeiro lugar, para Leonardo, estava a sabedoria grega, a ciência de Platão, e não o dogma eclesiástico e o pensamento aristotélico da Igreja Católica.
“São Simão ou Simão Apóstolo, dito Simão, o Zelota ou Simão, o Cananeu, natural da Galileia, foi um dos discípulos de Jesus Cristo que fazia parte do grupo dos doze apóstolos. É referido como o Cananeu de acordo com o Livro de Mateus e como o Zelote no Livro de Lucas e em Atos dos Apóstolos.”
“A palavra grega Cananeu e a palavra Zelote, derivada do aramaico e significam a mesma coisa: “zeloso”. Supõe-se por esse apelido que Simão pertencia à seita judaica conhecida como zelotes”
(Wikipédia)
E interessante reparar que o apóstolo Simão Cananeu ou Zelote é o mais desconhecido dos apóstolos, e nenhuma ação em torno de sua pessoa consta nos evangelhos ou no livro dos Atos (os livros canônicos), e só sabemos dele por causa do registro do seu nome na lista dos doze apóstolos. Assim, me parece que Leonardo escolheu a dedo este apóstolo, o menos importante, para transformá-lo na figura de vulto e importância para si e muitos outros de seu tempo, o herdeiro da Ciência de Hermes, Platão.
Simão Cananeu foi chamado o Zelote por associação a antiga seita dos zelotes, da qual Barrabás era líder, um grupo de revoltosos contra os romanos, organizados em células ocultas. Judas Iscariotes teria sido da mesma seita. E outra razão para Leonardo ter colocado Simão Cananeu do lado de Judas Tadeu é que eles eram, de fato, irmãos.
Outra relação interessante está no codnome “Zelote”, aquele que zela por alguma coisa (no caso, Platão, o último zelador da sabedoria hermética antes da Era cristã…)
E Platão tem algo mais a dizer, em resposta aos questionamentos de Leonardo (Judas) e Salai (Levi)… essa resposta está no número seis. É como se Simão dissesse: a resposta está no seis, ou no sexto.
O sexto apóstolo é Tomé. Ele é quem aponta o dedo indicador com vigor para cima. Ele talvez tenha a resposta que Leonardo procura… Porque este símbolo recorrente do dedo levantado ou apontando para algum lugar, é a chave do precioso e maior de todos os códigos da Vinci, que você conhecerá a seguir…
(continua)
Veja também
A parte 2 (o mapa de Leonardo da Vinci, taurino):
A parte 1:
O Verdadeiro Código da Vinci… muito além de Madalena – parte 1 – prólogo
JP em 04.03.2019