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O novo Papa Leão 14 e os antecessores da linhagem Leão

O novo Papa Leão 14 e os antecessores da linhagem Leão
Leão I e Leão XIII

Papa americano tem 69 anos, nasceu em Chicago e é visto como um reformista.

Ele foi escolhido por pelo menos 89 dos 133 cardeais – dois terços dos eleitores do conclave – e será o sucessor do papa Francisco na Cátedra de São Pedro.

Nascido em Chicago, nos Estados Unidos, Prevost tem 69 anos e se torna o primeiro papa norte-americano da história da Igreja. É também o primeiro pontífice vindo de um país de maioria protestante.

Apesar da origem norte-americana, Prevost construiu grande parte de sua trajetória religiosa na América Latina, especialmente no Peru. Foi lá que se destacou até alcançar os cargos mais altos da Cúria Romana.

Ao ser eleito, ocupava duas funções importantes no Vaticano: prefeito do Dicastério para os Bispos — órgão responsável pela nomeação de bispos — e presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina.

De perfil discreto e voz tranquila, Prevost costuma evitar os holofotes e entrevistas. No entanto, é visto como um reformista.

Tem formação sólida em teologia e é considerado um profundo conhecedor da lei canônica, que rege a Igreja Católica.

Entrou para a vida religiosa aos 22 anos. Formou-se em teologia na União Teológica Católica de Chicago e, aos 27, foi enviado a Roma para estudar direito canônico na Universidade de São Tomás de Aquino.

Foi ordenado padre em 1982 e, dois anos depois, iniciou sua atuação missionária no Peru — primeiro em Piura, depois em Trujillo, onde permaneceu por dez anos, inclusive durante o governo autoritário de Alberto Fujimori. Prevost chegou a cobrar desculpas públicas pelas injustiças cometidas no período.

Em 2014, foi nomeado administrador da Diocese de Chiclayo, cargo em que foi ordenado bispo e permaneceu por nove anos.

Durante sua passagem pelo Peru, Prevost também ocupou cargos de destaque na Conferência Episcopal local e foi nomeado para a Congregação do Clero e, depois, para a Congregação para os Bispos. Em 2023, recebeu o título de cardeal — função que ocupou por menos de dois anos antes de se tornar papa, algo raro na Igreja moderna.

Durante a internação de Francisco, Prevost foi o responsável por liderar uma oração pública no Vaticano pela saúde do então pontífice.


Quem foi Leão, primeiro papa a usar nome do novo líder da Igreja Católica
Seu pontificado, que começou no ano 440, teve várias primazias. Foi o primeiro papa a ser chamado “Magno” e um dos dois únicos pontífices a receber o título de “Doutor da Igreja”.

O novo papa adotou o nome Leão XIV, o que indica uma continuidade do legado de Leão, primeiro a adotar esta nomeação.

Leão I, conhecido como Leão Magno, foi o 45º papa da Igreja Católica. Ele assumiu o papado em 29 setembro de 440, iniciando um pontificado que seria marcante para a centralização do governo da Igreja Romana. O pontífice permaneceu no cargo por 21 anos.

Um dos episódios marcantes de seu pontificado foi o enfrentamento que fez a Átila, líder dos hunos, em 452. O encontro ocorreu perto de Mântua, no rio Mincio. Segundo a história, após a conversa, Átila teria desistido de invadir Roma.

Três anos depois, Leão interveio novamente a favor de Roma. Desta vez, enfrentou os Vândalos liderados por Genserico. Graças à sua atuação, Roma foi saqueada, mas não incendiada. As principais basílicas da cidade permaneceram intactas.

Além de pacificador, o papa se destacou na defesa da doutrina. Foi ele quem influenciou o Concílio de Calcedônia, que definiu a natureza humana e divina de Cristo e rejeitou a heresia de Eutiques. Naquela época a Igreja vivia uma crise.

Leão foi o responsável por escrever o ‘Tomo de Leão’, uma carta enviada por ele ao patriarca de Constantinopla, Flaviano. O documento explica como Cristo tem duas naturezas, uma humana e ourea divina, que não podem ser dissociadas. Durante o Concílio de Calcedônia, em 451, o documento foi aceito como uma explicação doutrinária da pessoa de Cristo.

A carta defende que Cristo não era de natureza humano, mas sim “o Verbo feito carne”, ou seja, viveu em um corpo que foi criado diretamente para esse propósito, e não um corpo verdadeiramente derivado do corpo de sua mãe. É este documento que explica que o Espírito Santo tornou a Virgem Maria fértil e, a partir daí, fez surgir um corpo real a partir dela.

Leão Magno também reforçou a primazia de Roma e escreveu cerca de 100 sermões e 150 cartas. Ele incentivou ações de caridade em meio à crise e desigualdade na capital. Assim, o novo papa demonstra, ao escolher o legado de Leão, que também tem pretensões de unificar a Igreja e lutar contra a desigualdade.

Durante o seu pontificado, Leão I enfrentou a descentralização do poder, onde a autoridade papal estava amplamente delegada aos bispos de cada diocese. O bispo de Roma já era reconhecido como o principal patriarca da igreja ocidental, mas a influência direta do papa sobre as dioceses era limitada.

Sentindo sua primazia ameaçada, Leão apelou ao imperador Valentiniano III, que emitiu o decreto de 6 de junho de 445. Este decreto reconheceu a primazia do bispo de Roma, baseando-se nos méritos de São Pedro, na dignidade da cidade de Roma e na legislação do Primeiro Concílio de Niceia. De acordo com o documento, o “Papa desfruta, por instituição divina, de poder supremo, pleno, imediato e universal no cuidado das almas”.

Leão I foi o primeiro papa a ser chamado “Magno” e um dos dois únicos pontífices a receber o título de “Doutor da Igreja”. O líder religioso morreu em 10 de novembro de 461 e suas relíquias estão na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Quem foi Leão XIII, o último Papa da linhagem Leão antes do atual?

Nome Leão XIII foi escolhido por Gioacchino Pecci em 20 de fevereiro de 1878. Seu papado durou 25 anos e ficou marcado pela “fundação” da Doutrina Social da Igreja e pela exaltação do rosário.

“Leão” foi escolhido por mais de uma dezena de papas principalmente em referência a São Leão Magno, o primeiro a adotar o nome e que ficou conhecido pela liderança espiritual, defesa da doutrina, ações diplomáticas decisivas – como o encontro com Átila, o Huno – e por ser reconhecido como Doutor da Igreja.

O nome de Leão XIII foi escolhido pelo italiano Gioacchino Pecci em 20 de fevereiro de 1878. Na visão dos arquivos do Vaticano e historiadores, Leão XIII foi um papa inovador para sua época, buscando conciliar a tradição da Igreja com os desafios do mundo moderno, especialmente nas áreas social, filosófica e diplomática.

Seu pontificado é lembrado principalmente pela encíclica Rerum Novarum e pela abertura ao diálogo com a sociedade contemporânea.

Ao longo de mais de 25 anos de papado, Leão XIII ficou marcado por diversas ações e iniciativas importantes:

  1. Defesa da Doutrina Social da Igreja
    Publicou a famosa encíclica Rerum Novarum (1891), que abordou a questão operária, os direitos dos trabalhadores e a justiça social. Este documento é considerado o marco inicial da Doutrina Social da Igreja.

❓O QUE É A DOUTRINA SOCIAL? A Doutrina Social da Igreja é o conjunto de princípios morais e sociais formulados a partir do Evangelho e da tradição católica para orientar a atuação da Igreja e dos fiéis diante de temas como trabalho, propriedade, justiça econômica, participação política e dignidade humana.
No artigo “O legado histórico de Leão XIII e da encíclica Rerum Novarum”, o historiador José Miguel Sardica, professor catedrático da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, atribui a Leão XIII a fundação institucional e teórica da Doutrina Social da Igreja.

Embora houvesse antecedentes, foi apenas com Leão XIII e a Rerum Novarum que a Igreja passou a se posicionar de forma sistematizada sobre os problemas sociais e econômicos, criando um corpus moral e teológico para interpretar e intervir sobre as realidades temporais.
Ainda segundo o historiador, o pontificado de Leão XIII marcou uma mudança de paradigma na atuação da Igreja frente ao socialismo e ao capitalismo. Sardica destaca que a Rerum Novarum rejeita ambos os extremos, propondo um caminho alternativo baseado na dignidade da pessoa, no papel moderador do Estado e na justiça social, o que representava um novo posicionamento da Igreja diante das ideologias do século XIX.

  1. Promoção do diálogo com o mundo moderno
    Procurou aproximar a Igreja das questões contemporâneas, incentivando o estudo das ciências e a abertura ao pensamento filosófico moderno, especialmente com a valorização de Tomás de Aquino.

Leão XIII foi o primeiro papa a aceitar pragmaticamente a perda dos Estados Pontifícios e, segundo Sardica, optou por uma atuação centrada na autoridade espiritual e intelectual, em vez da autoridade política, o que lhe deu liberdade para propor um novo modelo de atuação da Igreja na sociedade moderna.

De acordo com análise do teólogo e professor João Décio Passos (PUC-SP) no artigo ““Ensino superior e magistério da Igreja. A meta da verdade e o método do diálogo””, Leão XIII foi o primeiro pontífice a iniciar um “diálogo oficial” entre a Igreja e o mundo moderno.

Esse esforço ocorreu em duas frentes: a afirmação da dignidade humana nas relações sociais (encíclica Rerum Novarum) e o resgate da escolástica tomista como instrumento de pensamento e abertura ao conhecimento moderno (encíclica Aeterni Patris).

Segundo o pesquisador, o resgate de Tomás de Aquino serviu como estrutura conceitual para reafirmar que fé e razão não se contradizem, mas podem colaborar na busca da verdade.

  1. Reforma e incentivo ao estudo
    Leão XIII promoveu reformas significativas no sistema educacional católico. Ele incentivou o estudo da filosofia tomista e reformou o ensino nos seminários e universidades católicas para fortalecer a formação intelectual e espiritual do clero e dos leigos. Essas reformas visavam preparar a Igreja para enfrentar os desafios do mundo moderno com uma base sólida em tradição e razão.
  2. Relações diplomáticas
    Durante seu pontificado, Leão XIII trabalhou para restaurar e fortalecer as relações diplomáticas da Santa Sé com vários países, após as tensões do século XIX. Ele buscou estabelecer uma presença diplomática mais ativa, reconhecendo a importância da diplomacia para a missão global da Igreja. Esse esforço contribuiu para a expansão da influência da Santa Sé no cenário internacional.
  3. Valorização do Rosário
    Leão XIII também ficou conhecido como o “Papa do Rosário” por ter escrito doze encíclicas sobre o tema entre 1883 e 1898. Essas encíclicas, como Supremi Apostolatus Officio (1883) e Laetitiae Sanctae (1893), destacam a importância do Rosário como instrumento de fortalecimento da fé e meio de contemplação dos mistérios da vida de Cristo. Ele incentivou a prática do Rosário como resposta espiritual aos desafios de sua época.

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