Definições
Analisando a carta 15 pelo Tarot de Marselha, um dos mais antigos, vemos outras informações interessantes.
Começo relatando uma interessante conexão astrológica, porque a mal afamada carta 15 do Tarot, chamada O Diabo, se relaciona astrologicamente com Plutão, o deus dos Infernos ou o equivalente do Diabo na simbologia bíblica.
É uma carta ruim?
Na verdade, não existem cartas ruins, o que existem são arquétipos, e o Diabo nada mais é do que o ANIMAL vivo dentro de nós, este animal que, se não for domesticado, se torna sim, fonte de problemas e tendências negativas.
E é interessante estudar essa carta, agora que Plutão mudou de signo e estará afetando a faixa de Aquário pelos próximos 20 anos, numa longa translação.
Porque o Diabo dentro de nós é Plutão e se conecta com os movimentos de Plutão, tanto em nosso mapa individual como em escala de influência coletiva (o Inconsciente Coletivo).
E da mesma forma como as lições fundamentais de Astrologia ensinam que a poderosa influência de Plutão é formidável quando assumimos o controle de nossos impulsos mais profundos, o arcano 15 fala desses caminhos profundos e complexos da nossa SOMBRA acoplada com a natureza animal.
O animal em nós não é mal, é apenas o que é, a fonte vital e raiz dos instintos primordiais. O problema é que, na grande maioria das pessoas, ele não é controlado pelo Self (o Ser), mas pela Sombra (a inconsciência), quando então o mal assume poder no ego cristalizando desvios e todo tipo de relação indevida entre a nossa parte consciente e aquela fonte vital de poder.
Muitas mitologias apontam heróis descendo às moradas infernais do diabo ou de monstros, como Teseu e o Minotauro, Perseu e a Medusa, Hércules e o cão cérbero de três cabeças, sempre com a missão de vencer aquelas feras e resgatar algo de valor, os tesouros da consciência, quando então faz saltar um Pégaso alado ou libertar alguma princesa (simbologias relacionadas).
Essa descida retrata a própria exploração interna do autoconhecimento em busca dos tesouros mais profundos da alma, quando somos chamados a vencer nossos próprios monstros internos, estes que o Diabo representa, principalmente o pior deles:
as paixões.
Os instintos corporificam o Diabo. Basta notar que ele não passa de um animal humanizado, porque tem chifres, tem focinho, tem cauda e patas. O Diabo é um animal humanizado, ou pior, um humano animalizado. O que realmente acontece quando os instintos animais assumem o controle da razão, símbolo particularmente presente no Minotauro, aquela figura mítica do labirinto de Creta que tinha corpo de homem e cabeça de Touro.
Este Diabo do arcano 15 lembra muito o famoso Baphomet da Maçonaria oculta, imagem que hoje assume culto satanista mas não foi criada com esse propósito ou direção. Na verdade, o Baphomet foi inspirado no arcano 15, a qual, antes de mais nada, é uma carta de poder, o que nos faz voltar ao contexto astrológico de Plutão, que não é um astro do mal, apenas uma força que precisa ser controlada.
Profunda, tentadora, ela mede nossas fraquezas e as expõe para transformá-las em força. Esse é o papel de Plutão na construção de alma dentro de um mapa astral. Os códigos herméticos de transmutação de todo instinto em energia mental têm profunda relação com o arcano 15, quando aquela força toda se torna poder mágico real, influência e persuasão.
Porém, quando alguém é controlado pelas próprias paixões, será vítima fácil do controle de qualquer um. E o arcano 15 é extremamente sexual nesse sentido, e quando os vícios instalados procuram satisfações de prazer para compensar os desejos carnais em falta, então o controle pode assumir uma proporção perigosa.
A imagem do Tarot de Marselha não mostra um bode na cabeça, mas uma espécie de cervo (os chifres de cervo) o que se alinha com os cultos de fertilidade pagãos e o emprego destes animais para representar a fertilidade da terra. A coisa toda ligada ao bode e ao satanismo foi um desvio desse culto original.
Esse diabo alado é marcadamente um andrógino, porque possui seios femininos e órgãos sexuais masculinos, e aos seus pés, acorrentados, um casal de humanos igualmente transformados em diabos, e notem a profundidade que o símbolo assume aqui, porque esse Diabo dentro de nós é um androgino sexual que nos acorrenta há primórdios ao desejo físico que herdamos desde a queda de nossos pais divinos na geração animal (o pecado de Adão e Eva).
O Baphomet é uma clara adaptação do Diabo, arcano 15 do Tarot. Esse ser animal andrógino tem a mão direita levantada para cima e a mão esquerda, voltada para baixo.
E a mão esquerda geralmente ostenta um cetro ou bastão de poder.
As duas correntes, as duas naturezas diante das nossas escolhas: a ascensão ou a queda.
Vencer o diabo, suportar as tentações, significa fazer subir as correntes mentais, extraindo do fogo dos desejos a iluminação da razão transformada. Mas cair em tentação e se tornar escravo do desejo, isso significa involuir em níveis cada vez mais profundos de escuridão e ausência de consciência, quando toda racionalidade fica submetida aos impulsos carnais mais violentos e devassos (a escravidão ao próprio inferno psicológico).
Uma manobra curiosa é esta: some 1+5 = 6, e analise o conteúdo do arcano 6.
Um homem entre duas mulheres, uma que representa o caminho da virtude, e a outra, o caminho do vício.
E no alto, o Anjo Cupido das paixões aponta a flecha numa determinada direção, mas a escolha ainda nos é permitida.
Mas se somar 15 + 6 = 21, o resultado fatal de uma péssima escolha nos leva ao Louco do Tarot, que é a imagem da razão completamente perdida nos caminhos da vida.
Ora, a descrição bíblica não fala que Satanás ou Lúcifer usou uma serpente induzir EVA à tentar Adão? Aqui está a explicação, porque, via de regra, o homem é muito mais fraco carnalmente do que a mulher, e basta uma sedução a mais de uma mulher, e um homem estará aos seus pés, vitimado pela própria fraqueza carnal diante do sexo oposto que passa a controlar seus sentidos, emoções e pensamentos.
O que é uma coisa muito triste, a antítese total da pretendida iluminação e libertação da alma.
Portanto, seja o Arcano 15 do Diabo, seja o seu equivalente astrológico, Plutão, esse conteúdo do ANIMAL dentro de nós em guerra eterna contra o ESPÍRITO dentro de nós é que determina poder aos vencedores, e escravidão aos derrotados.
Esse Diabo age em tudo, especialmente nos cinco sentidos, e uma pessoa atraente aos olhos, aos sentidos, irá nos motivar desejos em sua direção, e esses desejos irão crescer e projetar seus tentáculos em nossas emoções, e logo suas raízes descerão aos nossos instintos, e quando isso acontece, a prisão se consolida.
E o sofrimento não demorará a chegar, depois que a taça dos prazeres, antes tão adocicados, se tornar veneno amargo em nossa boca.
Aquela história do fruto proibido do jardim?
Agora você já sabe.
No entanto, o Diabo nos oferece uma escolha:
comer o fruto ou não.
A mensagem final do arcano 15, o Diabo, seria essa:
“Ao que controla o fogo, a liberdade da luz, mas ao que é controlado por ele, a escravidão no escuro”.
Conclusão
Tanto o Anjo como o Diabo dentro de nós serão fruto de nossas escolhas…
JP em 28.03.2023
