Ainda estamos estudando os mistérios da Última Ceia de Leonardo, sua pintura mais abrangente em termos de códigos herméticos.
Na parte anterior, analisamos de forma global a Última Ceia em suas relações herméticas com o Zodíaco, bem como o primeiro grupo dos apóstolos (de três em três), da direita para a esquerda: São Simão Cananeu, São Judas Tadeu e São Mateus, e vimos as relações secretas com a filosofia de Platão, quando esta personagem está escondida na imagem de São Simão, bem como o próprio Leonardo da Vinci e seu discípulo, Salai, auto-retratados nas figuras de Judas Tadeu e Mateus, questionando Simão (Platão) em relação a afirmação de Jesus:
“Um de vós irá me trair!”
O que significa também, duma forma indireta e velada, a recusa de Leonardo diante dos caminhos aristotélicos e intolerantes da Igreja Católica de seu tempo.
O primeiro grupo, então, expunha tensão e discussão nessa dinâmica de personagens, todos os três, retratando outras pessoas.
Vamos ao segundo grupo, outro que possui chaves importantes escondidas no tema da Ceia.
Felipe, São Tiago Zebedeu (dito Maior) e São Thomé (Dídimo, o Gêmeo).
Este grupo revela tensão e exposição.
Não há discussão entre as personagens, mas um questionamento direto perante Jesus Cristo e seu anúncio declarado.
Opostamente ao primeiro grupo, este é o grupo que mais se volta na direção do Senhor, centralizado na mesa, expondo sentimentos e reações próprias, bastante individualizadas.
A primeira relação astrológica importante aparece nos dois apóstolos, Felipe e Thiago Zebedeu, ambos representando os signos de Câncer e Leão, que significam, respectivamente, introspecção e exposição, como a Lua e o Sol que regem tais signos.
Note que as mãos de Felipe se voltam para dentro, e o apóstolo Felipe, tal como são João, se encontra bastante feminino na concepção de Leonardo, é o único imberbe, como São João. Isso porque os signos mais femininos do Zodíaco são exatamente Câncer e Libra, regidos por Lua e Vênus, planetas de feminilidade, ao passo que em Touro, a vibração de Vênus é mais masculina e material, enquanto em Libra, mais feminina e cultivando os ideais.
As mãos de Felipe se voltam para dentro do coração, indicando uma reação altamente sensível e emocional do apóstolo, e o contraponto de Thiago-Sol mostra os braços e as mãos irradiando para fora, mas na mesma linha do coração. Ou seja, ambos os signos, Câncer e Leão, são altamente emocionais, porém, a emoção do primeiro é interiorizada e sensível, e a do segundo, é sempre exteriorizada e contagiante.
Parece representar também o próprio hieróglifo do signo, duas correntes ou vórtices (estilo Yang-Yin) fluindo em torno do centro, do TAO (coração): as duas mãos de Felipe fluem na direção do coração.
Uma coisa interessante é que São Thiago maior e São Thiago menor, opostos na mesa em relação aos doze signos da mesa (Thiago maior é Leão, Thiago menor é Aquário, opostos) são justamente os dois apóstolos retratados com maior semelhança de aparência com Jesus Cristo. Thiago maior, talvez, por se relacionar ao signo solar de Leão, exaltando a divindade solar de Jesus Cristo entronizado no centro do Zodíaco, enquanto o segundo, Thiago menor, por ter sido chamado de “Irmão de Jesus” nos textos bíblicos.
Como se fossem gêmeos estes dois Thiagos, aliás, a simbologia dos Gêmeos é um arquétipo bastante presente ao longo da obra de da Vinci, como veremos a seguir.
E começando neste ponto já com o apóstolo Thomé, o terceiro deste grupo, que, de forma impetuosa, apenas aponta o dedo indicador da mão direita para o alto, num gesto que se repete em muitas outras obras de Leonardo da Vinci, de tal maneira que este dedo indicador, e não outra coisa, é o principal Código da Vinci, o que vai ficar muito claro nos próximos capítulos deste estudo.
Thomé ou Tomé, nome hebraico (TUMIM) que significa GÊMEOS (plural), e no grego, Dídimo (como consta nos evangelhos). Por que Tomé foi chamado O GÊMEO?
Porque deveria ter mesmo um irmão gêmeo entre os doze? Sim, é o que alguns textos apócrifos sugerem, que o apóstolo Thomé, na verdade, se chamava JUDAS TOMÉ, já que era o gêmeo do apóstolo Judas Iscariotes!
Esta é uma revelação surpreendente!
E parece que Leonardo sabia dessa condição, porque retratou Tomé e Judas Iscariotes com perfis de rosto muito parecidos.
Observe os perfis, e nesta montagem, o fragmento da pintura com Tomé rouba o braço esquerdo de Cristo, o qual se encaixa com precisão no braço direito de Judas Iscariotes, combinando na cor e na anatomia!
Muitos estudam os mistérios da reflexologia da Última Ceia, esta obra fantástica, muito além de seu tempo e criada em múltiplas dimensões de contemplação!
O dedo erguido para o alto por Tomé (e Tomé representa o signo de Virgem na Última Ceia) é a clássica manifestação de argumentação crítica dos virginianos, e no caso, Tomé parece mesmo QUESTIONAR a declaração de Jesus, da mesma forma como questionou a sua ressurreição diante de Madalena e sua visão no domingo de Páscoa.
Porém, o argumento de Tomé vai além da mera discussão racional, e volta para as linhas do hermetismo codificado por Da Vinci. Notemos que, na Astrologia antiga, havia uma referência do signo ANDRÓGINO, que havia entre Virgem e Escorpião, que então haviam sido separados (nestes dois) pelo signo intermediário, Libra (a Balança da dualidade).
Deus mesmo criou antes de Adão e Eva, um homem que era um andrógino, e deste andrógino é que o sexo feminino foi formado (de sua costela, simbolicamente).
Deus criou o homem e a mulher no Sexto Dia da Criação, mas essa criação foi posterior ao andrógino. Note que o capítulo 1 do Gênesis faz duas citações. Primeiro, no versículo 26, diz que Deus criou o homem (Adão), e depois, versículo 27, diz que criou o macho e a fêmea, como numa continuação (divisão dos sexos a partir de um hermafrodita original).
Ora, o apóstolo Simão cananeu, como vimos antes, faz o sinal do número 6 com a mão esquerda, e esse sinal nos leva ao sexto apóstolo, que é Tomé: é como se Simão dissesse aos dois apóstolos que o questionam, Judas Tadeu e Mateus, que a resposta estava com Tomé, ou em Tomé, o gêmeo de Judas Iscariotes.
A Unidade do Sexto Dia da Criação no Adam Kadmon primordial, separado em sexos. Jesus se coloca exatamente no centro da divisão da mesa e das polaridades zodiacais dos doze signos em fluxo, porque ele é o Espírito que está no centro dessa androginia polarizada.
Contudo, o signo de Libra é representado pela posição do apóstolo João, à mão direita de Jesus (e Leonardo, mais uma vez, contraria o relato do evangelho, que diz que João estava ao seio de Jesus, isto é, à esquerda).
Ao seio de Jesus ele colocou Tomé, e quis dizer que ao Seio, à parte mais essencial e interna do Espírito Cristo estão os gêmeos(o Espírito Santo).
Eis o cerne da busca filosófica, alquímica e espiritual de Leonardo da Vinci, o código dos gêmeos unificados nesse dedo, nessa afirmação do UM, o Espírito, e isso ficará bastante claro nas próximas publicações, de tal forma que aquela história toda de Maria madalena, mãe do filho de Jesus etc, passará para um segundo plano de importância diante desta sua busca de primeiro grau.
Daí o motivo de suas fontes serem platônicas, pitagóricas, gnósticas e herméticas, porque ele buscava respostas que a Igreja católica dogmática e aristotélica de seu tempo não poderiam lhe fornecer, nem com a maior das boas vontades, que eram muito raras, diga-se de passagem! Porque o papel da Igreja normalmente era o de limitar e até de criminalizar certas posturas intelectuais e místicas diferentes das suas, de pensadores livres que ousassem lhe contrariar.
O próprio Evangelho (apócrifo) de Tomé é uma celebração mística destas questões levantadas por Leonardo da Vinci, em versículos que falam claramente, e de maneira revolucionária, sobre o resgate da androginia espiritual e alquímica dos sexos e das almas.
Olhem só essas passagens:
22. “Jesus viu crianças de peito a mamarem. E ele disse a seus discípulos: Essas crianças de peito se parecem com aqueles que entram no Reino. Perguntaram-lhe eles: Se formos pequenos, entraremos no Reino?
Respondeu-lhes Jesus: Se reduzirdes dois a um, se fizerdes o interior como o exterior, e o exterior como o interior, se fizerdes o de cima como o de baixo, se fizerdes um o masculino e o feminino, de maneira que o masculino não seja mais masculino e o feminino não seja mais feminino – então entrareis no Reino.”
Essas declarações falam da necessidade da resolução do andrógino vital e espiritual para reingressarmos no Reino de Deus, não como metades, macho ou fêmea, mas como unidades, conforme o dedo de Tomé alega, e seu evangelho confirma.
Evangelho de Tomé já era conhecido em grego, antes de ser descoberto em 1945 no Alto Egito e ser catalogado como um dos Textos de Nag Hammadi (Manuscritos do Mar Morto). Ele tem um formato diferente dos Evangelhos que estão na Bíblia e se refere às palavras secretas de Jesus, denominado “Vivente”, que teria proferido a Tomé, o Gêmeo.
E com toda certeza, Leonardo teve acesso a estes escritos em seu tempo, sua obra refletem ele em toda parte e em cada detalhe!
Aliás, voltando a Platão, é de sua autoria o mito grego mais conhecido sobre os andróginos, aquele em que diz que os seres foram criados andróginos no princípio, e depois reduzidos a metades por Zeus porque estavam se tornando desafiadores da divindade… e assim somos, até hoje, metades sexuais, e de vez em quando, a natureza produz com raridade algum hermafrodita como uma memória remanescente do DNA da raça…
Tudo isso é o que TOMÉ tenta ilustrara na Última Ceia, sabedoria platônica!
O hermafrodita é um símbolo capital da antiga Alquimia.
Há argumentos visuais muito fortes.
Primeiro, o dedo de Tomé, como que reunindo as duas metades na Unidade Original capaz de ascender aos céus e tornar a divindade primordial, que era imortal (a busca do Alquimista Leonardo da Vinci).
As dualidades complementares se espalham em toda a Cena, desde cores das vestes, o gestual das mãos e dedos, as posições calculadas de cada apóstolo, signos, e letras ocultas na estrutura geral.
Dizem as tradições astrológicas que o signo do Andrógino era uma fusão entre os signos de Virgem e Escorpião, e que foram depois separados em metades por Libra, o sétimo signo.
Interessante notar que ambos os símbolos têm a letra M na composição, sendo Escorpião projetado por uma flecha (fálica) e Virgem, por um ventre (útero). Letra M, Matriz, Matéria, Mãe, Mistério… Morte alquímica?
Somando Virgem e Escorpião temos 6+8 = 14, o Arcano do Taro que significa o Andrógino, a comunhão das metades.
Os símbolos astrológicos destes dois signos possuem elementos sexuais que os definem: o masculino fálico de Escorpião e o feminino uterino de Virgem.
Muitos já sabem da letra M formada pelos corpos de Jesus Cristo e João, afastados. E conhecem as associações feitas ao nome de Maria Madalena, como se fosse ela ao lado de Cristo, e não João apóstolo.
Então, temos outra proposição de Leonardo para a letra “M” daqueles dois signos separados, e que compunham o andrógino original: Virgem e Escorpião, ou Tomé e Judas Iscariotes, que eram realmente gêmeos!
E notem que o M formado pelos corpos de Jesus e João estão exatamente entre ambos, e que as mãos de João (Libra) reúne as metades! Se os vértices da letra M alcançam as cabeças de João e Jesus, suas extremidades na base alcançam justamente a mão direita de Judas (com o saco de 30 moedas) e a linha de projeção vertical da mão direita de Tomé, com o dedo apontando para cima!
Não nego a possibilidade da descendência real de Jesus Cristo através de Madalena (através de um mesmo caminho de concepção espiritual pelo poder do Espírito Santo sem concurso sexual, já que o Espírito pode assumir muitos caminhos para gerar a vida, quando opera em meios desconhecidos para a biologia humana limitada), já que isso era importante na tradição destas raças eleitas, ditas escolhidas, um ponto de vital interesse exposto nos relatos bíblicos.
E o nome de José, pai “adotivo” de Jesus, se liga a linhagem real de Davi (conforme Mateus 1). O que refuto é a atribuição que se faz de Madalena como uma espécie de instrutora divina, detentora de um novo evangelho, etc, até porque instrutora maior do que ela em relação a Jesus foi sua mãe, a Virgem Maria.
E também refuto esse culto de uma sexologia mística baseada em ensinos impuros não coerentes com a Bíblia e a tradição hermética da geração divina, relacionada inteiramente ao poder da Palavra (espírito) e não ao poder sexual (geração animal), porque o Ocultismo da Palavra e o Hermetismo mágico do Verbo é a chave e o instrumento iniciático real dos filhos de Deus.
A Bíblia deixa clara a função exclusiva da sexualidade, a reprodução, nobre função da natureza humana que a Lei regulamentou na instituição do matrimônio com interesse na família, o primeiro núcleo social da vida humana.
Voltando então a letra M e aquele grupo de apóstolos, percebemos que acima da letra M está uma letra T bastante definida, formada pelo batente das aberturas na parede atrás de Jesus Cristo e João, o que forma o termo TM, que é ToMé, o Gêmeo, ou os gêmeos (Taumim), a indicação ao mistério das almas gêmeas e da androginia espiritual.
Tomé, portanto, é o apóstolo-chave de toda a Última Ceia, e seu conhecimento e significado, aqueles que Leonardo indaga a Simão (Platão) na busca pelo hermafrodita ou andrógino espiritual.
E ele também teve o seu hermafrodita desenhado! Abaixo, um deles, houveram vários!
Nesse sentido, Jesus Cristo e João (o feminino) formam essa alegoria das metades complementares, nas cores, no corpo, na posição das mãos, nos signos (Libra, João, o signo onde as duas metades se reúnem) etc.
Há um grande número de argumentos de Ocultismo hermético reunidos nesta grandiosa obra!
Por exemplo, as 3 aberturas ao fundo, iluminadas, concordam com o símbolo supremo da divindade, o triângulo das forças cósmicas e espirituais. Mais argumentos paralelos do caminho de Hermes, na ciência do caduceu, mostrando que a Paridade trabalha na reconstrução do ser original, de natureza andrógina.
Porque, para se adentrar na dimensão do TODO, efetuando a reconexão com a Presença de Deus Eterno e Infinito, é impossível que isso seja feito com entidades reduzidas a metades, tanto metades sexuais como metades mentais que somos em nossa atual condição (decaída, incompleta e mortal).
As duas mãos de Jesus também estão em representação polarizada. A mão direita toma o pão, e a mão esquerda se abre para receber alguma coisa. E João, a sua direita, reúne as duas mãos, com os dedos entrelaçados. As roupas de ambos, nas mesmas cores, azul e vermelho (cores polarizadas) em posições alternadas, outro argumento. Há todo um código em torno do Binário na obtenção do terceiro elemento, o Querubim, o Andrógino alquímico, etc.
E João apóstolo, retratado como feminino na obra, abriu o caminho para as teorias de Maria Madalena, sendo essa a situação revelada (supostamente) por Jesus na Ceia (Eu amo Madalena mais que vocês) que teria causado o constrangimento e desconforto entre os apóstolos retratados na Ceia.
Mas a verdade é outra.
O Dedo de Tomé não aponta para Madalena como o grande segredo procurado por Leonardo da Vinci.
O dedo de Tomé nos leva a outra personagem bíblica tremenda, e seu nome é JOÃO BATISTA.
E Leonardo pintou e desenhou vários também…
(Você saberá mais nas próximas partes)…
JP em 05.04.2019
Veja também as partes anteriores:
Parte 1:
O Verdadeiro Código da Vinci… muito além de Madalena – parte 1 – prólogo
Parte 2:
Parte 3:
Os crops circles Leonardo da Vinci