A Bíblia condena a Astrologia?
A Bíblia, segundo interpretações de teólogos católicos antigos repassada através dos séculos pela tradição, diz orientar os cristãos para evitar a Astrologia e outras práticas ocultas, pois elas desviam o coração da confiança em Deus.
Em Deuteronômio 18:10-12, a Bíblia diz que buscar respostas em adivinhações é considerado uma abominação ao Senhor.
Porém, não existe ali uma definição para a Astrologia, mas sim, para as práticas necromantes do passado, que eram tão comuns naquele tempo e no circuito das nações pagãs em torno de Israel.
Mais uma vez, os intérpretes da Bíblia forçaram direções de entendimento das Escrituras conforme as suas concepções pessoais.
Por elas, os reis magos astrólogos seriam condenados por buscar aquela estrela que os guiou até o Salvador do Mundo, tudo porque eles também empregaram Astrologia.
Outra contradição acontece, porque o próprio Sumo Sacerdote Aarão, conforme reza a tradição judaica, possuia um instrumento chamado URIM, composto por pedras mágicas especiais que lhe davam respostas, como oráculos, apontando a Vontade de Deus nas questões importantes.
Já no Novo Testamento, os onze apóstolos se reuniram, após a ascensão de Cristo, para decidir qual novo integrante ocuparia o lugar de Judas Iscariotes, e para tanto, lançaram eles “sortes” entre dois nomes, José e Matias, recaindo sobre este último a escolha. Embora não haja o registro de que “sortes” eram estas, bem, um método de adivinhação foi ali empregado.
Ainda no mesmo Novo Testamento, no livro que encerra a jornada da civilização na Terra rumo ao novo Reino, este novo Reino, implantado segundo os moldes da “Jerusalém celestial”, conforme o Apocalipse 21, é uma pura retratação do Zodíaco, a cidade celeste de doze portas, três portas em cada uma das quatro direções, exatamente como o Zodíaco das influências celestes era retratado na antiguidade, sem contar que as quatro criaturas do trono sagrado de Deus YHWH são perfeitas descrições de quatro signos do Zodíaco dispostos em cruz:
Touro – Leão – Escorpião (águia) – Aquário (anjo ou homem).
Fica difícil encontrar verdade naquela interpretação dos teólogos forçando uma condenação para a prática da Astrologia, cujas bases a Bíblia reconhece.
A Astrologia é uma ciência espiritual verídica, e tudo depende da forma como ela é usada, para nos aproximar ou nos afastar de Deus e da espiritualidade.
Porque existe a Astrologia do materialismo, como em todas as outras modalidades do conhecimento e da metafísica espiritual distorcida e invertida quanto ao seu propósito real.
O conhecimento sempre apresenta duas escalas, o superior e o inferior, o que se aplica para a evolução espiritual e o que se aplica para a mentira, o poder e a ambição material. O conhecimento divino é o próprio fruto do Éden, fruto do bem e do mal.
Existem práticas benignas e práticas malignas. Salomão mesmo foi um sábio astrólogo e cabalista que usava as potências espirituais do céu (os gênios) e sabia calcular os melhores momentos de invocação dos anjos e gênios celestiais conforme as configurações planetárias a eles relacionadas. Teurgia divina de alto grau.
E quantas profecias fantásticas, séculos mais tarde, o profeta e astrólogo Nostradamus não realizaria com o estudo dos astros?
Por outro lado, no tempo antigo de Israel, existiam augures e necromantes que se valiam de cadáveres, invocação dos mortos e mesmo de demônios, e outras práticas impuras envolvendo sacrifícios humanos e rituais sexuais imundos para lançar adivinhação, coisa de bruxaria mesmo e satanismo puro que também foi conservada em nosso tempo.
Estas são as práticas condenadas pela Bíblia.
Eis a distinção entre o fruto bom e o fruto mau da mesma árvore chamada DAAT, o Conhecimento.
O verdadeiro e legítimo conhecimento divino tem a finalidade de nos aproximar de Deus promovendo autoconhecimento e evolução da consciência, enquanto o conhecimento satanista opera o contrário, forçando as leis da natureza e mudando a essência das coisas e da própria Ordem Universal apenas para cumprimento de desejos egoístas e inconscientes.
A própria Igreja, tanto católica como protestante, que tanto aponta o seu dedo para condenar os “adivinhos”, se tornou muito materialista com o passar do tempo.
Por que ela afinal não aponta o dedo contra si mesma?
Não foi a Bíblia ou o Senhor IHVH que condenou o grande livro do oráculo dos céus, mas sim os primeiros intérpretes da Bíblia. Até porque o termo “astrólogo” ou “astrologia” não existia no hebraico antigo da Bíblia, tendo sido associado ao texto original por aqueles eclesiásticos.
Então, eu prefiro a minha interpretação nessa questão.
Lembrando que foram os doutores católicos dos primeiros séculos de DETERMINARAM o que devia fazer parte da Bíblia e o que devia ficar de fora. Então, a Palavra de Deus foi amputada conforme os interesses de muitas crenças circunscritas ao universo católico dos primeiros doutores da igreja.
Mas virá o tempo que a religião consciente das leis do Universo espiritual substituirá a religião doutrinadora e limitada à crenças e dogmas, e se esta vigorou até hoje, era tão somente porque a mente da humanidade não estava ainda pronta para aquela primeira, original e que vigora no Universo espiritual de todos os seres em comunhão diante do mesmo Deus.
Vejamos a passagem bíblica de Deuteronômio a esse respeito e, depois, confrontá-la com a passagem original no texto hebraico cru, sem tradução e interpretação posterior.
10 Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro;
11 Nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos;
12 Pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor; e por estas abominações o Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti.
13 Perfeito serás, como o Senhor teu Deus.
14 Porque estas nações, que hás de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém a ti o Senhor teu Deus não permitiu tal coisa.
15 O Senhor teu Deus te levantará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis;
(Deuteronômio 18: 10-15)
Primeiro de tudo, o termo “astrólogo” ou “astrologia” não existia ali, naquela cultura.
O uso do termo agoureiro ou adivinhador era, portanto, genérico. E a maior parte destes termos se aplicava a necromantes, ou pessoas que praticavam um tipo de magia obscura através de invocação dos mortos e também de entidades do Umbral.
Nenhuma relação aqui se encontra com a prática da ciência dos astros, que tem astronomia, matemática e a “psicologia dos anjos” (influência dos astros conscientes) em suas medidas e métodos.
Os termos principais empregados
Q S M
(oráculo, sorte, praticar adivinhação)
Q S M I M
(praticantes de adivinhação)
M Hw U N M
(de/ conjuração)
M N Ch Sh
(de/ encantamento, feitiço)
M K Sh F
(de/ feitiçaria)
Ch B R
(encantamento, ligação)
Sh A L – A U B
(espírito do Sheol/ mundo dos mortos)
I D Hw N I – U D R Sh – H M U T I m
(buscar informação pelos mortos)
Bem, as expressões originais empregadas não deixam dúvidas a respeito das condenações do Deuteronômio, que passam longe da Astrologia, mas se concentram naquelas costumeiras práticas pagãs da época envolvendo goécia, necromancia, invocação de entidades do abismo.
A Igreja continua condenando culturas legítimas saídas da mais elevada sabedoria divina por pura ignorância.
Mas se essa fosse a Igreja de Cristo, isso me causaria preocupação e transtorno.
Porém, é tão somente a Igreja dos humanos, que anda às cegas como eles mesmos.
E na sua ignorância, ainda não entenderam que a escritura dos astros no céu é a própria Vontade de Deus em curso, amparada pelos anjos planetários e potências estelares.
Sábio quem puder interpretar essa Vontade com isenção de opinião religiosa, crença ou dogma. Porque muita coisa que a Igreja condena, Deus nunca condenou.
E o inverso também é válido.
JP em 07.01.2025