
O deserto voluntário da Quaresma
Quarta-feira, 5 de março de 2025 –
Quinta-feira, 17 de abril de 2025
Páscoa, Sexta-Feira, 18 de abril de 2025
O Tempo da Quaresma é o período do ano litúrgico que antecede a Páscoa cristã, sendo celebrado por algumas igrejas cristãs, dentre as quais a Católica, a Ortodoxa, a Anglicana, a Luterana e algumas denominações Presbiterianas e Reformadas.
A expressão Quaresma é originária do latim, quadragesima dies (quadragésimo dia). O adjetivo referente a este período é dito quaresmal ou, mais raro, quadragesimal.
Em diversas denominações cristãs, o Ciclo Pascal compreende três tempos: preparação, celebração e prolongamento. A Quaresma insere-se no período de preparação.
Os serviços religiosos desse tempo intentam a preparação da comunidade de fiéis para a celebração da festa pascal, que comemora a ressurreição e a vitória de Cristo depois dos seus sofrimentos e morte, conforme narrados nos Evangelhos.
Esta preparação é feita por meio de jejum, abstinência de carne, mortificações, caridade e orações.
A separação do Carnaval e o período da Quaresma inspira um vasto grupo de tradições folclóricas, algumas oriundas de ritos anteriores ao Cristianismo referentes ao pouso do inverno e do posterior renascimento primaveril da terra, no hemisfério norte.
Quadragesima, expressão latina típica na liturgia, denomina o período de quarenta dias de preparação para a Páscoa e que alude ao simbolismo do número quarenta com que o Antigo e o Novo Testamento representam os momentos salientes da experiência da fé da comunidade judaica e cristã.
Em seu simbolismo, este número não significa um tempo cronológico exato, ritmado pela sequência de dias, mas uma representação sociocultural de um período de duração significativa para uma comunidade de crentes.
Na Bíblia, o número quarenta aparece em diversos momentos significativos, a saber:
Antigo Testamento
Na história de Noé (Gênesis 7:4-12 e Gênesis 8:6), durante o dilúvio, é o tempo transcorrido na arca, junto com a sua família e com os animais. Após o dilúvio, passaram mais quarenta dias antes de tocar a terra firme.
Na narrativa referente a Moisés, é o tempo de sua permanência no monte Sinai — quarenta dias e quarenta noites — para receber a Lei (Êxodo 24:18). Quarenta anos dura a viagem do povo judeu do Egito para a Terra prometida (Deuteronômio 8:2-4).
No Livro dos Juízes, refere-se a quarenta anos de paz de que Israel goza sob os Juízes (Juízes 3:11).
O profeta Elias leva quarenta dias para chegar ao monte Horeb, onde se encontra com Deus (I Reis 19:8). Os cidadãos de Nínive fazem penitência durante quarenta dias para obter o perdão de Deus (Jonas 3:4-5).
Quarenta anos duraram os reinados de Saul (Atos 13:21), de Davi (II Samuel 5:4-5) e de Salomão (I Reis 11:42), os três primeiros reis de Israel.
O simbolismo do número quarenta também está presente em Salmos 95:10, referindo-se aos número de anos que o povo judeu caminhou pelo deserto.
Novo Testamento
Jesus foi levado por Maria e José ao Templo, quarenta dias após o seu nascimento, para ser apresentado ao Senhor (Lucas 2:22). Este período de quarenta dias era determinado pela lei judaica, quando uma mulher desse à luz a um filho homem.
Foi a soma dos dias para a circuncisão de Jesus, após o parto, mais o período para a purificação de Maria. Só então ela poderia entrar no santuário (Levítico 12:2-4).
Jesus, antes de iniciar a sua vida pública, retira-se no deserto por quarenta dias e quarenta noites, sem comer (Mateus 4:2 e Lucas 4:1-2).
Durante quarenta dias Jesus ressuscitado instrui os seus discípulos, antes de subir ao Céu e enviar o Espírito Santo
(Atos 1:1-3).
Uma espécie de quarentena espiritual, onde o devoto cristão se prepara para a celebração da Páscoa, recebendo todas as suas dádivas espirituais.
A cor roxa é usada na Quaresma para simbolizar o luto da Igreja pelo sofrimento de Cristo. É também um sinal de penitência, conversão, reflexão e sofrimento de morte.
Curiosamente, no idioma espiritual, a cor roxa se relaciona com as frequências mais elevadas da alma vibrando no chakra coronário, e não foi ali que Jesus Cristo recebeu sua coroa de espinhos e dores?
Essa imagem demonstra que nenhum poder ou iluminação vem sem sofrimento e sacrifício voluntário – porque a cruz foi uma escolha de Cristo, não uma imposição.
E mais do que nunca, neste atribulado ano de 2025, precisamos “negar a nós mesmos, tomar a nossa cruz e seguí-lo”, para garantir a nossa conexão com Jesus Cristo, nadando contra a corrente dos hábitos e vícios do mundo moderno entregue ao pecado como se o pecado fosse a única dimensão conhecida de vida e possibilidade existencial disponível.
A crise espiritual da humanidade é tão grave que ela não somente peca, mas não sabe que peca, e pior, acredita firmemente levar uma vida altamente justa e digna.
Prega-se uma atual narrativa de que a humanidade evoluiu e essa definição toda de pecado e culpa se tornou obsoleta, até retrógrada diante dos novos padrões do pensamento, relegada ao atraso das religiões igualmente retrógradas.
Ser feliz é viver plenamente os sentidos físicos sem culpas…
(como se nada existisse além do prazer físico ). As invenções da carne se multiplicam, a loucura do ego em satisfazer a si mesmo não encontra mais fronteiras, e pior, é plenamente protegida pelas renovadas leis da justiça deste mundo, que pretendem “democratizar” o pecado.
A separação entre o período da Quaresma e os quatro dias da loucura do carnaval revelam aquele curto período de intenso pecado exposto nas ruas como motivo de alegria (na verdade, histeria), e curiosamente, o período da Quaresma vale 10 vezes o do carnaval (4 x 10), criando uma interessante conexão de causa (pecado) e efeito (sofrimento, purificação).
O carnaval é um fragmento do próprio inferno em atividade na superfície, quando as regras são suspensas e toda loucura da carne e dos sentidos é liberada.
Santidade e devassidão não coexistem num mesmo espaço psicológico, porque da mesma forma que a santidade tem repulsa pelo pecado, o pecado se enojará da santidade, e o conflito nunca cessará enquanto uma mesma mente der alimento para as duas correntes divergentes dividindo o seu coração. Por isso, o Apocalipse fala dos quentes ou dos frios, porque ninguém pode ficar eternamente em cima do muro nessa questão.
Outra conexão interessante vem da Cabala, porque 4 significa PORTA, e 10, Roda, tempo (o número dos mandamentos). Dez também se associa à dízimo, ou oferta voluntária, no caso, não oferta material, mas oferta espiritual de sacrifícios e renúncias voluntárias em atos de reparação.
Em quarenta dias, cruzamos a porta do realinhamento com os mandamentos perdidos pelos atos de desobediência, sanando a consciência cristã.
O mundo se tornou a terra sem limites do ego humano, e a humanidade fez de sua queda o seu orgulho, do pecado a sua lei e da mentira a sua camuflagem, rejeitando com violência a ideia de um salvador que possa curar a sua fraqueza espiritual mais profunda, removendo da carne todos os espinhos hereditários que a impelem ao pecado automático e sem controle.
Foi mais fácil para ela deturpar a verdade e vestir de virtude todos os seus crimes não confessos à luz da oportunidade de redenção.
Preferiu se esconder nas sombras do que se preparar para o retorno da luz. Acostumou-se tanto com os pensamentos sombrios que eles se tornaram a sua própria consciência, ética, caráter e referência moral.
A humanidade não poderia estar mais longe da salvação do que isso.
Os profetas anunciaram que estes dias chegariam, o dia em que o pecado se tornaria virtude, que o diabo se tornaria motivo de piada, que Deus seria negado por todos os lados e que a doutrina cristã seria perseguida em toda a Terra, debaixo de ódio, deboche e descrença.
Chegou a hora de sofrer pela Verdade.
Chegou a hora de celebrar a Libertação.
Porque chegou a hora do Leão de Judá.
JP em 05.03.2025