Espiritualidade

“Ensine um homem a pescar e ele se alimentará por toda a vida.”

Este antigo provérbio chinês (atribuído a Lao-Tsé, importante filósofo da China antiga) merece uma análise mais profunda, sobre as origens da mendicância.

Nem sempre é fácil avaliar quais as razões que levaram uma pessoa ao estado de pobreza e miséria extrema nessa vida.

Dizem as teorias do Karma que estas pessoas foram aquelas que, em vidas passadas, abusaram do materialismo e não ajudaram ninguém, e pelo contrário, seu materialismo ativo levou muita gente à miséria.

Então, reencarnam com o destino da miséria, sofrendo na pele aquilo que fizeram os outros sofrerem no passado.

Geralmente, as linhas do Karma são simples de se decifrar:o que sofremos hoje é o que fizemos os outros sofrer no passado.

Ou o que sofremos hoje decorre do abuso que cometemos no passado.
Claro que é impossível ensinar um faminto a pescar.

Primeiro se lhe dá o peixe, uma, duas, três vezes.
E em seguida, procura-se pelos caminhos de sua reintegração á sociedade.

O que não faltam são entidades filantrópicas e governamentais de apoio.

O que falta, no entanto, é interesse da maioria dessa gente nesse tipo de ressocialização: porque, na vida prática, a maioria prefere continuar como está, o que faz com que detectemos um problema muito maior do que a simples fome, sede ou frio.

Um problema espiritual: a miséria interior.
O problema é que, se der comida um dia, você terá o faminto todos os dias na sua porta, porque a fome dele nunca terminará.

E na prática, sem nenhum tipo de filosofia, já me aconteceu de tentar ajudar vários famintos nessa vida com outras direções, tentando encaminha-los a tratamentos ou entidades especializadas, e a resposta do faminto, depois que a barriga está cheia, é sempre a mesma (quase sempre a mesma):

EU NÃO QUERO.

Ele já está de tal forma adaptado a vida nas ruas que tudo o que ele sabe fazer é cumprir o papel de eterno pedinte, se recusando a mudar isso.

Poucos, muito poucos na prática, conseguem mudar, geralmente aqueles que entraram para igrejas e entidades religiosas e receberam ali apoio material e psicológico.

Teve casos que eu conheci onde o mendigo foi recebido, alimentado, banhado e cuidado. E depois, nenhuma tentativa de socializá-lo ajudou.

Porque ele voltou para as ruas, para as drogas e para a bebida, para a mendicância.
Ninguém é mendigo por acaso.
Não basta alimentar e agasalhar.

Tem que investigar as origens da mendicância no ego miserável de cada um. Caso contrário, a fome e a mendicância serão o destino destes egos em estado sombrio que se recusa a se iluminar.
Mas quem quer abrigar um mendigo dessa forma?

Muitos de nós apenas quer dar um pedaço de pão para que eles sigam seu caminho.
Poucos realmente querem ajudar além do pedaço de pão…

Claro que a gente sacia a fome imediata das pessoas. Mas se você não saciar a alma dessa pessoa com direção consciente na vida, você terá um pedinte eterno na sua porta.
E eu sei que ninguém quer isso.

O próprio Jesus disse:

Nem só de pão viverá o homem, mas de toda Palavra que sai da Boca de Deus.

O que Jesus ensina aqui é que a miséria espiritual (o afastamento de Deus) se torna a causa direta de todas as misérias materiais na vida das pessoas.

Pergunta se essas pessoas, a maioria delas, estão interessada no Pão da Palavra de Deus na mudança espiritual, da miséria para a abundância, começando a mudar seu comportamento interior, que é a causa da mendicância?

A maioria não quer, e sabemos disso.
O filósofo está mais do que certo.
Alimentar uma ou duas vezes, claro.
Ninguém raciocina direito com a barriga doendo.

Mas seguir alimentando está errado, porque apenas reforçaremos o ego pedinte parasita da pessoa.

E você não ajuda a pessoa em nada. Só reforça o estado de mendicância e miséria interior que lhe é inerente, porque toda miséria externa é reflexo da miséria interior, a que o filósofo pretendeu curar.

Muita gente quer dar pão e agasalho ao mendigo, porque é fácil.
Pegam o que está sobrando em armários e dispensas, e entregam na porta, para que o mendigo… vá embora.

Mas e ficar para cuidar das dores da alma dele?
Conhece quem se habilita?

Sendo essa a verdadeira caridade. Não só alimentar o estômago.
Mas alimentar a alma.

Porém, as pessoas geralmente nunca tem tempo para isso.

A verdade é que muita gente dá o pão para o faminto para se livrar logo dele, sem se importar com toda a problemática que aquela alma alimentada por breves instantes por aquele pedaço de pão vai seguir carregando adiante… por falta de quem possa ouvir suas dores e, quem sabe, orientá-lo na vida.

JP em 08.05.2021

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