Todo pecado é hipnótico, e toda luxúria, mais ainda.
Todo vicio que gera prazer derrama inúmeros argumentos mentais lhe consolando no ato, que você interpreta como de seu legítimo direito apenas porque lhe é prazeroso.
Mas é assim que funciona mesmo?
Basta que algo seja prazeroso na vida para que se torne lícito ao espírito que habita o corpo, a fonte dos prazeres desfrutados e desfrutáveis?
Me parece que algo bastante equivocado e deturpado aparece nessa lógica do desejo.
Mas qual lógica pode existir numa mente que segue comandos hipnóticos?
Quanto maior o prazer, maior a hipnose.
Não há erro no prazer em si mesmo, desde que ele não seja abusivo e fira as regras do espírito que habita em seu santuário, o nosso corpo-templo, apesar de que certa facção ideológica moderna pregue “meu corpo, minhas regras” (lema geralmente associado aos defensores do aborto) , o que é um absurdo, visto que o corpo nunca foi criação nossa, mas de uma inteligência espiritual que nos precede em tudo.
Delito e virtude, como distinguir?
A grande diferença entre o veneno e o remédio está na dose.
O pecado, qualquer um, é sempre uma dose imoderada e venenosa de luxúria, materialismo, ambição, cobiça ou orgulho.
Elementos que dão um prazer mortal no corpo de quem os experimenta. Um prazer mortal que, além de matar lentamente o corpo, vai atirar sua alma no Inferno após a sua morte.
Porque quem fala na voz hipnótica dos seus desejos proibidos nunca foi você mesmo, mas vozes subindo do Inferno e se infiltrando na sua mente adormecida pela hipnose do pecado, à semelhança da serpente hipnotizando EVA para que ela ingerisse o fruto da árvore proibida chamada pecado.
Claro que o cenário do Éden é pura metáfora. Uma serpente que fala em desejos tentadores, em frutos deliciosos a serem experimentados sem regras de consumo, obviamente está falando daquele desejo primitivo que derrubou até os anjos do céu, quanto mais os humanos. Tanto que a referida árvore da ciência do bem e do mal ficava no meio do Éden, no seu centro.
Confira qual a parte que fica no centro do seu corpo físico de experiências e sensações, até porque, no hebraico antigo, uma mesma palavra era usada para conhecimento, experiência e sexualidade: DAAT.
E a psicanálise já identificou na serpente um dos símbolos primordiais referentes às pulsões sexuais do ser humano, uma espécie de símbolo comum da consciência coletiva que a visita, por exemplo, em sonhos.
Portanto, levar essas e outras passagens da Biblia para o lado literal de interpretação é assinar uma ignorância generalizada sobre as profundidades ali contidas.
O tentador que a serpente encarna (imagem de Satanás, o inimigo da humanidade) precisa antes hipnotizar você para depois lhe induzir ao pecado, o qual, hipnotizado, você interpretará como coisa lícita e de pleno direito seu, quando o seu discernimento entre o bem e o mal, e entre a verdade e a mentira, se torna completamente anulado.
Os argumentos do pecado, dessa forma, nunca serão razões verdadeiras e justas, mas apenas um amontoado confuso de vozes distorcendo a realidade, no esforço de dizer aos ouvidos das pessoas apenas o que elas realmente querem ouvir para seguirem em frente, decididas, no ato pecaminoso, já autojustificado em suas consciências (hipnotizadas, claro).
A hipnose é o oposto da consciência desperta, e somente esta, a consciência desperta, nos abre o pleno exercício das melhores escolhas.
Porque todo ser hipnotizado escolhe ou permite que outros escolham em seu lugar por ele.
Nunca houve uma mentira tão mais confortável do que essa: a de que você está no controle do seu corpo, da sua vida e das suas escolhas, hipnotizado do jeito que está e segue neste mundo.
A mente humana tem duas faces, a face consciente e a face tenebrosa. A face consciente é aquela que naturalmente reconhece a luz da verdade em tudo, mas a face tenebrosa é aquela que procura negar e combater a face da verdade em tudo quando se propõe ao mal e aos atos errados.
Todos nós vivemos em eterna batalha interna, e lá fora, no mundo exterior, seremos atraídos para cenários teatrais que se alinham com nossas principais polêmicas internas.
O sábio consegue fazer desses teatros um motivo a mais para aprender e evoluir, corrigindo os erros que as circunstâncias apontam.
Mas o tolo, em seu medo da verdade, seguirá apenas fugindo dela, quebrando todos os espelhos da realidade que se levantem para lhe mostrar os fatos, se vitimizando de tudo na sua busca por culpados que ele apontará todo o tempo, e procurando sempre alegações que justifiquem os seus piores erros.
O sábio vence seus erros. O tolo foge deles.
Para o sábio, a vida é uma oportunidade de evoluir na direção da Verdade que liberta. Mas para o tolo, a vida é apenas a chance de consumir prazeres o tempo todo.
Apenas porque o foco do sábio é a consciência do espírito, mas o foco do tolo é a carne e as suas sensações.
É assim que a vida, afinal, seleciona o joio e o trigo.
“Pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais.”
Efésios 6: 12
JP em 24.06.2023