Há um grande e único mal que caminha sob o Sol, que todos têm visto mas poucos o têm discernido. Ele tem todos os nomes e fala todos os idiomas.
Nasceu em todas as raças e sexos, defende todas as ideologias e vive em todas as terras. Assume todas as aparências e sua existência é milenar, desde quando houve este mundo.
Pode ser gracioso ou rude, santo ou devasso, luminoso ou coberto de sombras, qual um camaleão, atuando conforme as circunstâncias.
Vive em todas as casas, levanta cidades, desfila em tronos e lhe apraz ostentar coroas na cabeça e ajuntar títulos de grandeza ao nome, e com a mesma força, constrói ou destrói, tudo conforme o seu desejo.
Chora, ri, protesta, luta, saca a espada e até morre. Sim, ele pode até mesmo morrer na defesa de sua equivocada glória, glória de miragens, miragens de ilusão.
Ele confunde facilmente amor com desejo devasso, alegria com histeria e liberdade de expressão com descarrego de ódio e frustração, exposição chula da imoralidade e da transgressão.
Para ele, liberdade é anarquia e festa é baderna, dada a sua natural aversão a regras e a limites. No seu conceito, justiça é vingança, poder é domínio dos fracos e direito é abuso.
É feroz ou dissimulado nos teatros da vida, de acordo com a personagem evocada, e em vez de estabilidade econômica, ele busca esbanjamento e ostentação.
Não sabe amar, pois se guia pelo vício. Sensorial é o seu conceito de amor, e por isso, sua taça de prazeres é sempre transbordante e imunda. Confunde amor próprio com orgulho e vaidade, ideais com cobiça ambiciosa.
Sutilmente transforma a corrupção em tradição, esculpe na pedra do pecado o seu ídolo e celebra a perversão como um sacramento. Mentira e dolo são dissolvidas por uma argumentação tão brilhante ao ponto de saírem de sua boca parecidas com verdade e virtude.
Seu campo de visão é estreito mas na sua concepção, estreita é a paisagem que ele contempla. E em vez de reconhecer a própria cegueira e procurar por seus olhos perdidos para vislumbrar um novo mundo, prefere recorrer a todas as teses acadêmicas disponíveis para provar que a luz não existe, trazendo assim algum consolo ao seu permanente estado de escuridão.
Não voa, mas pragueja contra as aves do céu ao invés de tentar construir asas. Não é feliz, e a felicidade alheia o atormenta, e corroído por sua inveja secreta, declara passageira toda a felicidade, quando ela é celebrada por estranhos. Duradoura é só a sua amargura.
Aprendeu a usar a santa hipocrisia para viver mais, não se importando com as dores alheias. Assim, trocou o “viver melhor” pelo “viver mais”.
Sua prece contínua ao se deitar e ao se levantar é sempre a mesma: “que eu tenha tudo o que eu quero!” mas o seu coração permanece como um poço sem fundo nunca preenchido.
“Que o mar pegue fogo para que eu coma peixe assado!” O Universo deve estar ao seu serviço, caso contrário, o universo será sempre o culpado por seus males, se sentindo uma eterna vítima.
Só é perfeito e nobre aquilo que está de acordo com o que ele quer.
Sua natureza é como a do tumor maligno que, com o tempo, diz a si próprio que ele é a saúde, e a célula sadia, a doença invasora. Culpa sempre aos outros e ao “Sistema”, jamais a si mesmo, esquecendo-se que o “Sistema” é composto por outros iguais a ele.
Não acredita em Deus e não se importa com religião, apenas quando pode tirar alguma vantagem dela. Dar é um verbo inexistente no seu dicionário, e sempre justifica isso dizendo: “se eu não tenho nem pra mim, como posso dar aos outros?”
Para ele, humildade é para os fracos, e renúncia, para os perdedores. Grande é o desejo que costuma acalentar em coração pequeno. E solitário nesse castelo vazio, ele finge alegria do lado de fora. Afinal, sua vida é toda aparência.
Só acredita em profecias, astrologia e Destino quando se dá bem, caso contrário, retruca: “é tudo bobagem”.
Não conseguindo satisfazer ao mestre do corpo, procurou por outros senhorios e percebeu que isso era como correr atrás da própria sombra, e cada ânsia que brotava no peito lhe escorria como água por entre os dedos.
Atualmente, o dinheiro é considerada a melhor solução, até o dia em que este velho ídolo também caia, perdendo a sua eficiência, o que fará com que ele procure por outro.
Acredita no Azar mas somente em casa alheia. Nas suas reflexões diárias acumula em sua lista somente reivindicações, mas nela nunca consta dádivas e serviços ao bem comum.
Geralmente não suporta o NÃO, embora em sua boca haja mais “NÃO’s” do que “SIM’s” aos demais. Toda ação é condicionada a um retorno, e a tal história do amor incondicional para ele já virou lenda há muito tempo, tão lendário quanto aquele Deus que morreu na Cruz pelo bem da humanidade, em nome de um Amor incondicional.
Mas não há em sua alma amor, nobreza, grandeza, caráter, verdade, beleza, entendimento, virtude, conhecimento, humildade, luz, simplicidade, caridade, fé, valor, força e coragem para receber e mesmo suportar a imensurável mensagem do Senhor da Cruz e, por isso, se volta aos seus deuses pequenos, aqueles que caibam no altar do seu pequeno coração e estejam de acordo com as preces que a eles entrega em seu restrito mundo, que tem o tamanho do seu egoísmo.
Na sua mente, o Paraíso é uma utopia e os mártires do passado não passam de fanáticos, já que o único sacrifício que pode suportar é o que faz por si mesmo, embora a sua política sórdida e mesquinha sempre o aconselhe a evitar o sacrifício desde que outros possam cumprí-lo no seu lugar. Ou seja, é ele quem cria os mártires para depois difamá-los.
Quem dera pudesse ouvir os Anjos! Mas está ocupado demais tentando exorcizar todos os demônios que brotam no solo de tanta ignorância. Quem pode contar estrelas quando se ocupa de fugir de tantas tempestades?
É possessivo, arrogante e materialista, mas nisto vê firmeza de caráter. Não repara nas flores, e para ele, as montanhas não passam de obstáculos em sua estrada horizontal em vez de escadarias para o céu. Não há céu e nem inferno no seu campo horizontal de visão.
Deus e o universo espiritual ficam no ponto cego do seu olho. Sua mente é fatalista e muitas vezes o otimismo é só uma máscara para o mundo. Isso porque ele vive em função do mundo e não em função da verdade interior que o mundo lhe escondeu desde o dia em que nasceu.
Suas canções preferidas são ou de lamento ou de frenesi corporal, e sua vida tem se tornado como uma tela surrealista simplesmente porque não sabe degustar a arte de um coração sereno, isso porque nunca possuiu um.
Avalia e julga os passos de sua estrada na medida das coisas que perdeu ontem e das coisas que pode ganhar amanhã, já que esculpe a imagem de si mesmo não em função do que é, mas em função do que tem.
Para ele, ser é ter. Depois que o ter passa, o ser acaba. Eis a sua filosofia.
Não contempla o universo com êxtase e reverência, porque julga que o Universo está lá para serví-lo. Ele negará com arrogância ao Deus Vivo em todas as suas manifestações ideológicas chamadas religiões porque lhe ensinaram que isso é ser culto e moderno, e também porque aquele Deus não está de acordo com a única religião que para ele faz algum sentido, chamada Materialismo.
Não só a Deus, mas negará sistematicamente toda e qualquer ideologia que contrarie a sua vida desregrada e ameace a sua mentira particular.
Dirá que toda Justiça é falsa e toda Verdade (revelada ou não) é ilusória, forjada pelas Instituições religiosas, todas as vezes que essa Justiça tentar limitar seus abusos e essa Verdade ameaçar a sua própria existência, satisfação e prazer pessoal. Isso o leva a apontar com violência o erro nas religiões, se esquecendo que o agente da fraude não está na religião, mas naqueles que a institucionalizaram, aliás, tal como ocorre em outras instituições não religiosas onde assistem outros a ele iguais.
Mau não é o instrumento, mas o coração que o move.Se tornará cético e mesmo ateu quando a mentira lhe for mais conveniente que a verdade. Ele criará bandeiras, organizará grupos e alianças e até redigirá leis em sua defesa, e com energia discursará nos palanques de todo o mundo, ainda que nada disso tenha qualquer sintonia com o universo real do ser nele existente.
Há certamente um lugar dentro deste universo onde a lei vigente é aquela em que cada um faz o que quer dentro do mesmo espaço, sem limites ou regras que possam constranger essa pobre e imaculada vítima auto-declarada, bem ao gosto do Diabo.
Desnecessário dizer porque INFERNO é o nome deste lugar. Essa lei julga de acordo com o que vê na casca, o que a torna focalizada somente no aspecto material da vida, indiferente a tudo o que seja moral e espiritual.
Para os defensores desta lei, santidade moral é alienação, e igualmente as religiões são alienações por pregarem isso. Ignoram que religiões saíram das pegadas de corações bem-aventurados que alcançaram a Paz e a Luz, nada tendo a ver com instituições falíveis, e sim com a Verdade e a Justiça inerentes à existência do Universo sempre desejoso de saturar todos os corações de paz e luz, quando abertos para isso.
Aliás, para ele, a vida é um acidente, o espírito uma fantasia e Deus, uma invenção de povos estúpidos e bárbaros.
Se recusa a crer nas coisas que não entram no seu cérebro, como se o seu cérebro fosse a régua absoluta do universo. Sua arrogância o cegou ao ponto de creditar a si mesmo o valor de centro. Nesse mesmo raciocínio, também não pode acreditar no Diabo, mas se existe um Diabo, ele não passa da encarnação de toda ignorância que assume poder e influência invisível sobre as massas.
E como Deus nunca legisla em favor da mentira e da injustiça, então este indivíduo tratou de negá-lo e, depois, construiu no seu lugar um deus particular para adorar: a Ciência.
E através deste deus, ele finalmente pôde legislar em causa própria e criar um mundo e um sistema de valores totalmente favoráveis a si mesmo, ao ponto de mirar nesse espelho todo o seu incurável narcisismo e exclamar bem alto:
EU SOU DEUS!
Assim, com o nascimento do novo deus do século, ele sentou-se no pináculo de sua soberba, e ali, com o coração ainda vazio e solitário, percebeu que tudo isso só o tornou ainda mais infeliz do que já era, e que esse falso deus era apenas a extensão de si mesmo.
Reinando num deserto, trono posto entre as pedras e as solidões, não conseguiu nem mesmo chorar.
Deus se comoveu das Alturas e lhe enviou mensageiros, mas ele matou a todos, quer pela espada, quer pela indiferença. Tentou culpar a Deus pelo reino sombrio à sua volta, mas se ele negou a Deus, como poderia culpar o que não existe? Então desistiu dessa idéia e esperou pelo próximo bode expiatório a cruzar o seu deserto de morte, para então poder culpá-lo e sobre ele atirar todos os seus fantasmas, demônios e medos.
De qualquer forma, o reino deste indivíduo nunca subsiste por muito tempo, pois é sempre repelido por aquele mesmo universo consciente, uma vez declarado falso e contrário à existência e propósito da Verdade.
E se existe um Deus, eis que Ele é justamente essa existência e propósito, diante do que todo egoísmo é pó. Ou melhor, é nada, já que pó ainda é alguma coisa, substância donde saiu o homem e as estrelas, e para onde haverão de voltar um dia.
Porque o egoísmo é réu eterno neste Universo que, além do pó, fala Verdade em toda parte, exceto aos ouvidos do egoísmo, cuja raiz não suporta as águas que, regando abundantemente aquele Jardim de Estrelas, irrigam nas almas puras e humildes somente bons desejos, até que estes se transformem em flores de luz brotando dos corações qual vasos sedentos somente das águas do Amor sob o Sol da Verdade.
Afinal, qual é a identidade secreta deste grande mal e qual o nome deste perigoso inimigo da humanidade?
Ora, ele não é outro senão que o próprio HOMEM!
E o EGO humano!
De tal modo que não será preciso nenhum Deus ou profeta de Deus para mostrar ao homem os seus erros. Ele mesmo os verá claramente, com os seus próprios olhos, e constatará um após o outro pelo seu próprio discernimento a ser chamado no Dia do Grande Juízo da Verdade, e verá que toda essa cultura falsa e vazia de Deus, arrogante e cheia de imoralidade, libertinagem e falta de freios e limites só trouxe tristeza e vazio interior, destruição e anarquia ao redor.
Perceberá que sua tecnologia conseguiu apenas construir máquinas para máquinas, esses autômatos em série sem coração, e que, com o seu deus ciência por eles adorado, que lhes explica tudo, ficou somente sem a explicação da coisa mais essencial de todas:
QUAL O SENTIDO DE TUDO ISSO?
Irá então sofrer amargamente e tentar reverter tudo isso, porém, como sempre, TARDE DEMAIS! Sua própria consciência o acusará, se é que ainda terá uma naqueles tempos em que somente trevas dentro e ao redor prevalecerão.
E o Útero da Terra ferida o tragará outra vez, para tornar pó esse EGO MALDITO e devolver nova semente de esperança aos redimidos pela Lei do Amor que, diante de tanta maldade, reserva um trunfo para o final, uma porta que nunca se fecha e um invencível poder reservado em tempos de total condenação:
O ARREPENDIMENTO!