Espiritualidade

Por que as pessoas não conseguem mais ficar consigo mesmas?

Há um grande mal… na era digital… tomado por muitos como normal… mas por outros, como sinal… de que realmente estamos no final…

No final dos relacionamentos saudáveis do ser humano com os outros e, principalmente, consigo mesmo.

Quantos casais a mesa, que em vez de olharem um para o outro e partilharem seu dia, preferem ficar distantes um do outro para se conectarem com a rede global de computadores… é o que mais se vê por ai.

Quantos amigos ou grupos de trabalho que, nas horas vagas, pouco ou nada conversam entre si, e mal esperam pelo intervalo para poder correr ao celular e se conectar online com o mundo, enquanto se distanciam cada vez mais daqueles que lhe são próximos… isso quando não ficam conectados dentro do horário de trabalho, para irritação do seu chefe.

Pior do que isso, quantas e quantas pessoas nas filas dos ônibus e dos bancos, nas recepções e salas de espera, nos corredores, nas ruas, nos caixas de mercados e lojas, até dentro dos carros e nos elevadores, quando não até em banheiros (!!!) enfim, onde quer que as pessoas fiquem sozinhas e tenham que esperar, por alguns minutos, por alguns segundos, não estão mais conseguindo ficar consigo mesmas… uma compulsão obsessiva faz com que arranquem seus celulares de bolsos e bolsas e se atirem na comunhão virtual com a Rede Online de computadores, vulgarmente conhecida como INTERNET.

Muitos acordam e a primeira coisa que fazem, em vez de recitar uma oração ou uma prática de agradecimento pelo novo dia que nasce, é acessar o celular. Outros só pegam no sono depois de checar milhares de vezes suas mensagens…

Não conseguem SUPORTAR (a palavra é essa mesma) alguns minutos ou segundos de recolhimento na própria individualidade, quando se encontram sozinhas, no eco dos próprios pensamentos, havendo um desespero que as impele ao acesso dos aparelhos de conexão com o mundo virtual.

A grande verdade é esta: estas pessoas vivem mais NO MUNDO VIRTUAL DO QUE NO MUNDO REAL… eu vejo aí abismos em série se abrindo… abismo cultural tendencioso devido a nova e gorda fatia de lucros no mercado da tecnologia digital… vejo um abismo nos relacionamentos e um abismo no próprio equilíbrio psicológico destas novas gerações totalmente DEPENDENTES, para não dizer ESCRAVAS da tecnologia digital e do suporte que ela fornece aos relacionamentos virtuais.

Até a experiência sexual das pessoas (em geral, homens) está se tornando mais digital do que física no aspecto da união com outra pessoa (constatado que muitos homens tem mais prazer em contatos visuais na Internet do que com uma parceira real, para a alegria da bilionária indústria da pornografia)… vejo um abismo atrás de outro se abrindo, um engolindo o outro e todos engolindo o indefeso ser humano enredado nessa malha diabólica de uma política inconfessável de manipulação mental com respaldo tecnológico.

O que está acontecendo com o ser humano que já não suporta mais ficar um minuto sozinho consigo mesmo e os seus pensamentos, emoções e lembranças? Onde foi parar a capacidade de ficar em silêncio com a própria mente e contemplar outras paisagens somente disponíveis na quietude do coração meditativo e entregue ao prazer de estar consigo mesmo em sua jornada particular de auto-descoberta?

E se fosse o caso deste tipo de ser humano ir parar numa ilha deserta, o que lhe aconteceria? Sobreviveria … ou enlouqueceria?

Por que as pessoas estão fugindo tanto da introspecção, da companhia consigo mesmas, com os próprios pensamentos e emoções, sonhos e desejos?

Dispersão, distração, quantidade de informação sem qualidade, atividade exclusivamente oposta a todo tipo de introspecção, a morte dos relacionamentos, mais e mais distantes do único caminho que existe, o CONHECE-TE A TI MESMO…

Qual a pior das mortes em se tratando de relacionamentos senão que a morte do relacionamento consigo mesmo?

Por que as pessoas estão fugindo cada vez mais de si mesmas?

E fugindo para onde? Para um universo virtual totalmente irreal e subjetivo, que acaba no mesmo instante em que o aparelho estraga ou a energia elétrica é cortada? Olha só quão frágil é esse universo! Basta um espirro com mais força do Sol em suas ejeções de partículas carregadas, que um BLECAUTE GLOBAL irá acabar com todo esse mundo paralelo da INTERNET em um segundo.

E eu me pergunto: o que será das pessoas no SEGUNDO SEGUINTE?
Nem falo nada sobre o DIA SEGUINTE…. falo do SEGUNDO SEGUINTE AO BLECAUTE!

Por que não suportam mais o vital, o fundamental, o essencial RELACIONAMENTO CONSIGO MESMAS?

Uma fuga, um escapismo do vazio interior que as devora, uma espécie de solidão crônica que, em vez de álcool ou drogas, se refugia no mundo virtual, que é um mundo tão irreal e subjetivo do que aquele criado pelas drogas e substâncias alucinógenas, porque, na maioria das vezes, os viciados digitais estão muito mais relacionados e conectados com pessoas distantes do que com as pessoas próximas, bem ao seu lado, de modo que o diagnóstico de tal procedimento nunca poderá ser considerado normal ou saudável, senão que justamente o contrário…

Um ponto pode realmente ser considerado um dos fortes motivos para esta fuga, a desilusão dos relacionamentos com os que estão próximos… mas que falsamente se pensa consertar ou curar virtualmente… na verdade, a gente só muda o problema de lugar. E falseia relacionamentos a distância, enquanto não trabalha sobre os problemas de convivência com os que estão ao nosso redor, família, companheiro (a), vizinhos, colegas de trabalho, estranhos na rua, etc.

E por que muda de lugar? Simples, e demonstro num exemplo. A pessoa está se sentindo solitária, com problemas de relacionamento com pessoas próximas, distanciamento dos familiares, separações cheias de mágoa e incompreensão, brigas no trabalho, etc. Então, mergulha nas redes sociais em busca de relacionamentos virtuais onde possa se “distrair” e pode até permanecer muito tempo nesse tipo de ligação sem que haja proximidade real de convivência… até que algum dia, ela venha a conhecer e se unir na vida real com a pessoa ou pessoas de ligações virtuais, e então, começa a ter problemas na vida real, começa a brigar, a repetir tudo o que repetia com as pessoas anteriores de seus relacionamentos problemáticos, e tudo começa de novo, como uma roda viciosa, até o ponto em que a pessoa nessa situação, ou se liberta, percebendo os erros dentro dela mesma, ou se condiciona a viver assim, uma vida de relacionamentos subjetivos, que nunca se concretizam na vida real, na presença física, no companheirismo diário, na convivência nem sempre fácil… afinal, o ser humano não é nem um robô e nem um computador, que possa ser programado por comandos virtuais. Em toda forma de escapismo, a pessoa só irá se libertar quando detectar os problemas nela mesma, problemas que, em vez de solucionar em seu coração, ela desconsidera na forma de saídas escapistas.

E a Internet facilita a construção de um falso EU que cada um cria para inserir sua vida no mundo dos relacionamentos virtuais. E com o passar do tempo, esse falso EU é tão alimentado pelos dois lados (a pessoa e os seus contatos digitais) que ele ocupa um lugar vital da mente do indivíduo, uma fantasia de si mesmo digitalizada e que passa a conflituar com o seu EU real, em todos os campos de sua vida prática.

Nesse aspecto, compreendemos o escapismo embutido nesses vícios digitais em muitos casos. Mas eles vão progredindo a tal ponto que a pessoa vai perdendo a capacidade de se relacionar com os semelhantes, consertando erros, vendo seus pontos negativos, observando o outro lado e não somente o seu, etc, e tudo o que faz parte da evolução da vida em sociedade e em família… e a progressão desse distanciamento perigoso, no final das contas, é que a pessoa vai perdendo o contato consigo mesma…

Religiosos, filósofos, espiritualistas, estudiosos, terapeutas, médicos, monges, psicólogos, enfim, quem quer que seja que ainda esteja a salvo dessa queda eterna no vazio devorador da alma que não suporta a própria companhia… unam forças para salvar as novas gerações!

Porque a tecnologia não melhora a alma de ninguém.
E em excesso, faz a inteligência regredir ao invés de desenvolvê-la.
Deus criou o homem, mas a tecnologia está recriando o homem.
E convertendo-o num autômato facilmente manipulável.
E a idéia sempre foi essa, desde o começo!

JP em 03.09.2019

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