O Segredo da Criação e os dois filhos de Deus
Como grande parte da Bíblia é simbologia e metáfora (afinal, não procedem de fonte intelectual comum, mas de inspiração divina transcrita por veículos humanos preparados para ela), existem muitas verdades de nível cosmológico superior em suas linhas mais despercebidas.
E uma dessas linhas fala da relação entre os dois primeiros filhos de um pai e uma mãe.
A começar por Caim e Abel, os primeiros filhos do casal original, Adão e Eva.
Depois, tivemos o grande pai Abraão e seus dois filhos, Ismael e Isaac.
Isaac também teve dois filhos, Esaú e Jacó.
O padrão destes relatos é que ambos os primeiros filhos foram homens, e entraram em algum tipo de combate ou disputa.
Caim e Abel, pelos motivos conhecidos, porque Caim tinha grande inveja de Abel ao notar que seu irmão mais novo era consagrado a Deus.
Depois, a rivalidade mais importante aconteceu entre Ismael e Isaac, porque Ismael era filho ilegítimo de Abraão, que ele teve com sua serva Hagar, enquanto o nascimento de Isaac, filho de sua esposa Sarah, precisou esperar pela intervenção divina, que tornou Sarah novamente fértil, apesar da idade avançada dela (e de Abraão).
Essa situação gerou disputa e divisão entre os dois filhos de Abraão, que se consagrou como patriarca da nação eleita (Israel) a partir do nascimento de Isaac, seu segundo filho.
Como Abel, o segundo filho de Adão que se tornou consagrado a Deus.
Ismael nasceu de uma união ilegítima (fora do casamento) enquanto Isaac nasceu da união de Abrão e sua esposa, Sarah, quando então Deus muda o nome de Abrão para Abraão, e institui a circuncisão entre os homens (que significa a consagração da sexualidade aos propósitos espirituais de Deus).
Era ainda Abrão seu nome quando gerou Ismael, o ancestral dos árabes, mas passou a se chamar Abraão depois que concebeu Isaac.
Abrão significa “pai elevado”, enquanto Abraão passa a significar “pai de muitos” (sua descendência declarada por Deus).
Por fim, os dois filhos de Isaac, Esaú e Jacó, já lutavam a partir do ventre de sua mãe, Rebeca.
E as disputas continuaram até que, por uma manobra ensinada pela sua mãe, Jacó, o segundo filho, conquista os direitos de primogenitura que pertenciam a Esaú, o primeiro filho, motivo pelo qual passou a perseguir seu irmão.
Outra coisa que predomina nestes relatos: o primeiro irmão era sempre retratado como mais forte, agressivo, viril, enquanto o segundo como mais refinado, suave e espiritual.
Esaú é retratado como de aparência avermelhada – a iconografia o mostra marrom ou até preto e peludo, o que implica que ele é do tipo instintivo e rude, também no caráter, enquanto Jacó é descrito como liso, mais afável e ligado a sua mãe.
O nome Esaú significa peludo, e também foi chamado de EDOM, nome paralelo ao de Adão, que significa “vermelho”.
Até no Novo Testamento temos essa simbologia expressa, não na forma de dois irmãos em disputa, mas sim, na forma de dois enviados por Deus ao mundo: João Batista e Jesus Cristo, que nasceram próximos um do outro.
João Batista veio antes, o primeiro “filho de Deus”, com a missão de preparar em Israel os caminhos para a chegada do Messias.
João Batista era um profeta rude, que vestia peles de animais e habitava no deserto, a mesma imagem daqueles primeiros filhos mais rudes do Antigo Testamento, enquanto Jesus, que veio em segundo, era a própria bondade encarnada e que, como Abel, foi sacrificado, não por João, mas pelos judeus brutais.
Trata-se de um padrão tudo isso, com uma verdade cosmológica aqui inserida.
E na verdade, esses dois irmãos podem representar as duas humanidades criadas por Deus, aquela mais primitiva, conforme os registros históricos, e aquela que foi assumindo a civilização conhecida.
Os povos pré-históricos representam o primeiro filho, o primeiro modelo de humanidade, rude, brutal, instintiva, que foi evoluindo ao longo das eras, ensaio da natureza.
Depois, aparece a humanidade adâmica, edênica, paradisíaca, refinada pela ação espiritual do Criador e que, segundo se estima, com participação extraterrestre em sua composição genética, que permitiu que a raça alcançasse um grau de refinamento ao ponto do Criador lhe imprimir o selo de semelhança.
Se o relato do Gênesis declara que Adão foi criado a partir do barro, isso demonstra um mecanismo de evolução implícito ao ato criativo, e o mesmo se deu com os animais da Terra, cujo status original era o de dinossauros.
O rude evoluiu para o refinado, o animalesco para o espiritualizado, o instintivo para o intelectualmente polido.
Entre o protótipo e o projeto final, existe um lapso preenchido pela Evolução.
Isso nos leva a uma regressão ainda mais profunda do panorama universal:
o Caos foi o berço do Cosmos.
O símbolo dos irmãos bíblicos aponta verdades profundas a respeito da Criação de todas as coisas, quando tudo deve começar a partir de um rascunho que a evolução aperfeiçoa até o ponto desejado por Deus.
A Criação e a Evolução operando juntas sem qualquer conflito, porque em nenhum lugar da Bíblia está escrito que Deus criou tudo instantaneamente.
Ele mesmo precisou de seis dias para criar tudo, mas como ainda nem existia planeta Terra na ocasião, então, seis dias aqui são referentes a seis grandes períodos cósmicos nos quais a Criação operou com a Evolução.
Enquanto o princípio é criado, o tempo trata de evoluir esse princípio.
Não é difícil de entender.
JP em 11.11.2023