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Interpretações não são verdades, são conceitos

Toda interpretação, seja da Bíblia, seja de símbolos, seja de textos, tabuinhas, imagens, de qualquer conteúdo, depende do nível de consciência e compreensão do intérprete, o que significa que a interpretação pode se tornar uma leitura pessoal sujeita a erros e limitações.

Todo símbolo, toda escritura antiga, todo conteúdo é elástico, pode ter várias interpretações paralelas, em camadas, que não se confundem, mas que servem a níveis diferentes de compreensão e aplicação prática… a arte da interpretação é uma das mais difíceis de se conquistar, porque envolve muitos fatores de qualificação.

Existem muitas teorias criadas em cima de interpretações de textos antigos do Egito, da Suméria, dos Maias, e de outros, que podem estar incompletas e mesmo erradas, a espera de revisão e correção, conforme novos e maiores conhecimentos sejam adquiridos. Por isso é que a mente humana nunca deve agarrar-se a certezas absolutas nesses domínios.

Exemplos são as tabuinhas sumerianas que Zecharia Sitchin interpretou do modo dele (e cometeu enormes erros) ou as deduções imprecisas dos arqueólogos oficiais sobre as grandes pirâmides.

Falando especialmente da Bíblia, na verdade, o que as igrejas ensinam não são exatamente as verdades bíblicas, mas sim, as interpretações acumuladas que teólogos, padres e pastores têm feito dela ao longo de milênios. E sabemos que quase todas as interpretações colidem entre si, o que vai causando separatividade religiosa e divisão da Igreja original em congregação x, y, z.

Por causa desse fenômeno, sub-religiões aparecem todos os dias, tudo porque facções ideológicas vão se desdobrando da matriz original, confundindo ainda mais o mundo ao invés de esclarecer, gerando proselitismo e guerras sem fim, absurdas porque são travadas em nome de um Único Deus que falou de formas diferentes a povos diferentes e em tempos diferentes.
Isso mede o quão baixa é a consciência humana em tal nível.

O Espírito que inspirou a Escritura traz uma mesma consciência da Verdade, e o exercício de quem busca aprendizado na fonte bíblica é o de procurar se alinhar com a consciência deste espírito para tentar absorver ao máximo a verdade daquelas linhas, sem se preocupar tanto com as variadas interpretações que estas mesmas linhas vêm recebendo, passando de mão em mão.

O que pode se tornar uma grande confusão, porque as interpretações católicas diferem das interpretações protestantes, e de outras interpretações, e até dentro de cada grupo religioso, há também divergências sobre as interpretações das diversas passagens, muitas vezes manipuladas para dar crédito a determinado interesse, opinião isolada, conceito pessoal enfim.

Isso quer dizer que nenhuma autoridade religiosa pode bater o martelo na questão das interpretações bíblicas. Elas serão restritas ao seu nível pessoal de compreensão, e isso não é somente uma questão de estudo, mas de consciência espiritual.

Tem muito padre e muito pastor batendo no peito, dizendo que fez faculdade de Teologia, que estuda a Bíblia há anos, e conhece a Bíblia inteira, etc… mas e daí?

Isso não quer dizer nada. Pode ter interpretado razoavelmente algumas passagens, mas pode estar ainda preso a conceitos obscuros e imprecisos em outras passagens, trancados às suas próprias crenças pessoais.

Esse é o grande perigo em se seguir pastores e suas visões, ideias e crenças.
Você se torna prisioneiro da mente dele, dos conceitos dele.

O que eu estimulo aqui é o estudo pessoal, é o despertar da consciência, para que as crenças sejam desfeitas, e aumentando o campo da consciência, venha a compreensão no lugar da crença morta diante da letra morta.

Claro que o conhecimento é importante no estudo interpretativo de qualquer coisa. Claro também que muita coisa já foi interpretada solidamente. Mas nem tudo. E o pior, a medida que o tempo passa, as contradições até sobre os pontos tidos como sólidos aumentam. E tudo se desintegra, parece que o edifício do conhecimento se torna mais e mais carcomido pela especulação cega da era moderna e suas infinitas fações contrárias.

Por isso é que conhecimento não é o fator absoluto da questão, até porque existem outros conhecimentos ignorados por aqueles que tem a pretensão de achar que sabem tudo e que já podem manifestar interpretações absolutas de verdades bíblicas, satanizando todo o resto que não se enquadrar na sua visão pessoal, e pior, transferir estes modelos imprecisos para outros crentes, propagando suas ideias equivocadas em correntes de fanatismo.

Quando o Espírito da Verdade entregou as lições fundamentais ao mundo, Ele já sabia que grande parte desse ensinamento se corromperia pela ação contaminadora do ego humano, vista ele batina de padre ou terno de pastor. Não importa.

Não importa o idioma original da Bíblia e para quantos idiomas ela já foi traduzida.
Importa conhecer acima de tudo o Idioma do Espírito para se compreender tudo isso.
E o seu Idioma é a Verdade universal.

Isso explica porque muitos conhecimentos de nível mais elevado simplesmente não podem ser partilhados com pessoas cuja consciência não chegou até aquele nível. Será um debate desgastante e inútil, porque pessoas de nível de entendimento mais baixo tem a marcante tendência de se agarrarem fanaticamente às suas crenças se fechando para o novo que as ameaça, o que fazem com grande dose de violência reativa. A única coisa a ser feita é esperar que tal ou qual pessoa aumente seu nível de consciência para que as portas da compreensão se abram cada vez mais em sua mente reativa.

No final, importa apenas ter um coração puro e uma consciência simples, porque, conforme declarou Jesus…

“Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos.”
Mateus 11:25

Se fazer humilde e pequeno como as crianças é o caminho seguro para maiores aquisições de sabedoria. Até porque as maiores verdades divinas não podem ser escritas… porque não cabem em livros, pergaminhos e pedras, mas somente no coração.

Por tudo isso é que eu procuro preservar as minhas relações com o Sagrado a partir do coração, e não apenas a partir da razão, porque a razão dos eruditos sempre falha quando o coração deles se torna surdo àquelas palavras que Deus nunca pode escrever em nenhum outro lugar…

É no coração puro que Deus sempre escreve a sua sabedoria mais preciosa e não acessível a todo mundo. Sabedoria que fala no silêncio e não precisa do debate, do discurso e da discussão para ser ouvida pela consciência desperta.

Por falta de inspiração divina (a fonte da Verdade) é que o conhecimento moderno racional e especulativo está acumulando tantos erros e desviando tanta gente da Verdade.

JP em 22.05.2021

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