“É como se os suicídios se tornassem invisíveis, por serem um tabu sobre o qual mantemos silêncio. Os homicídios são uma epidemia. Mas os suicídios também merecem atenção porque alertam para um sofrimento imenso, que faz o jovem tirar a própria vida”, alerta Waiselfisz, coordenador da Área de Estudos da Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).
Criador do Mapa da Violência, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz destaca que o suicídio também cresce no conjunto da população brasileira. A taxa aumentou 60% desde 1980. O Brasil registrou 11.433 mortes por suicídio em 2017 – em média, um caso a cada 46 minutos. Nos últimos 5 anos, 48.204 pessoas tentaram suicídio, segundo registros de entradas em hospitais, mas isto é um ‘subdiagnóstico’, estima-se que esse número é muito maior. Dados oferecidos pela diretora da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Fátima Marinho. Em números absolutos, porém, o Brasil de dimensões continentais ganha visibilidade nos relatórios: é o oitavo país com maior número de suicídios no mundo, segundo ranking divulgado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 2014. (Fonte – BBC)
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o suicídio é a segunda causa de mortes entre jovens entre 15 e 29 e já é considerado uma epidemia. As meninas são as que mais tentam. Os meninos são os que mais conseguem. Por isso o índice de suicídio é maior do que entre os homens.
A saúde mental do Brasil está péssima. Cerca de 11 milhões de pessoas foram diagnósticas com depressão, quase 6% da população. É o número 1 com maior prevalência da doença na América Latina, o 2 nas Américas, ficando atrás apenas dos estados unidos. A saúde mental precisa urgentemente ser reconhecida como umas das prioridades nas políticas públicas. Em muitos países, programas de prevenção do suicídio passaram a fazer parte das políticas de saúde pública. Na Inglaterra, o número de mortes por suicídio está caindo em consequência um amplo programa de tratamento de depressão. Reduzir o suicídio é um desafio coletivo que precisa ser colocado em debate. A indiferença, a omissão, o silêncio, não podem ser nossas respostas. Fazer nada é a pior decisão que podemos tomar sobre qualquer assunto.
Mais de 50% dos adolescentes trans tentam o suicídio
Nós que trabalhamos com prevenção ao suicídio estamos muito preocupados com a disseminação do ódio às minorias. Mais de 50% dos adolescentes trans tentam o suicídio, indica estudo feito ao longo de três anos pelo professor Russell B. Toomey, da Universidade do Arizona-Tucson (EUA). 51% dos adolescentes que se identificaram como transgênero relataram pelo menos uma tentativa de suicídio. O psicólogo Tiago Zortea – Suicidologista – atualmente uma das referências internacionais em Prevenção ao suicídio, afirma que “as experiências de estigma e discriminação vividas pelas pessoas da comunidade LGBT se mostraram significativamente associadas a todos os três aspectos da tendência suicida [tentativa de suicídio passada, ideação suicida no presente, e probabilidade de recorrência de tentativa de suicídio no futuro]. Tais experiências incluíram fatores de estigma na escola (por exemplo, professores não se manifestando contra o preconceito, lições negativas sobre minorias sexuais), reações negativas de familiares e amigos quanto ao processo de revelarem-se LGBT, e assédio ou experiências criminosas especificamente voltadas à comunidade LGBT [homofobia ou LGBT-fobia]. Outros fatores como ser bissexual, não se sentir aceito onde se vive, fazer parte de uma minoria sexual mais jovem, e a autorevelar-se LGBT também se mostraram associados à tendência suicida. Fatores não-LGBT também significativos neste estudo incluíram gênero feminino (ser ou identificar-se como mulher – [sexismo]), apoio social reduzido, ansiedade / depressão, busca de ajuda, experiências de abuso / violência e abuso sexual”.
Neste prisma, são grandes os riscos de se ter uma arma em casa
De acordo com uma recente revisão de 31 artigos científicos sobre suicídio, mais de 90% das pessoas que se mataram tinham algum transtorno mental como depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar e dependência de álcool ou outras drogas. No Brasil, porém, persiste a falta de políticas públicas para prevenção do suicídio, com o agravo da passagem do tempo e do aumento populacional.
Com a posse de armas liberada no Brasil, os estudos indicam que teremos mais suicídios, mais mortes por acidentes, mais feminicídios… Nos EUA, a maioria das mortes por armas de fogo acontece dessa forma – incríveis 64,2% dos 37.200 óbitos em 2016. No Brasil, essa porcentagem é de 4%, ou 1.728 mortes. Se os mesmos 4% da população do Brasil tiver uma arma (o que representaria 6 milhões de novas armas em casa), o total de pessoas que tiram a própria vida todo ano, proporcionalmente, passaria dos 16 mil. É como se 7 Boeings lotados caíssem todo mês.
Estes dados foram analisado por Thomas V. Conti, pesquisador da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Entre 2013 e 2017, ele traduziu 48 resumos de pesquisas sobre armamentos para cravar: 90% delas são taxativas ao dizer que um maior número de armas aumenta o número de crimes letais e suicídios. (Fonte: Super Interessante)
Reduzir o suicídio é um desafio coletivo que precisa ser colocado em debate. “Nossa resposta não pode ser o silêncio. Nossas chances de chegar às pessoas que precisam de ajuda dependem da visibilidade”, fala do psiquiatra Humberto Corrêa no artigo ‘Suicídio aumenta no Brasil, mas isso poderia ser evitado’ – publicado na revista Planeta (edição 421, Outubro de 2007).
(Excerto de “Jovem, não morra na Golden Gate”, artigo (prelo) de pesquisas teóricas e de campo, da romancista e psicopedagoga Clara Dawn, que tem se dedicado ao assunto desde 2014).