A Palavra criadora
Este é um conceito fundamental, eu diria, o primeiro conceito, a ser incorporado em toda e qualquer prática espiritual, tão importante quanto o trabalho conjugado com a energia mental, os quais, como vimos antes, são o ativo e o passivo da mesma energia do espírito consciente, Palavra e Pensamento.
Então, esse hábito de recitar orações e textos fixos, de memória, é válido até certo ponto. Funcionam bem em aberturas de práticas, mas para que a consciência presente na prática seja realmente estimulada, o interessante aqui é recorrer mesmo ás palavras e frases de improviso!
Essas palavras improvisadas, dentro do contexto da prática, nos obrigam a sair do roteiro repetido, que torna a prática um tanto mecânica e fria. O ato do improviso nas palavras obriga a nossa mente a se concentrar neste novo roteiro recém-criado, já que a recitação de textos repetidos podem e costumam acontecer por parte do “piloto automático” da nossa mente, apoiada num mero retorno da memória sem que a atenção direcionada esteja necessariamente envolvida, totalmente envolvida na prática executada.
O fato de se impor a improvisação no ato das orações e práticas envolvendo petições obriga a mente a prestar mais atenção no que está falando, justamente porque o ato de inovar é criativo, e vai além, muito além do mero ato repetitivo saído da memorização, aumentando assim e muito o nível de concentração da experiência, o que significa uma maior eficiência.
A palavra é solar, o pensamento é lunar.
O Verbo é Yang, e a energia mental, Yin.
Ambos coexistem numa mesma dinâmica pessoal como as duas faces de uma mesma moeda, e é impossível de separá-las. A telepatia, por exemplo, é a fusão perfeita de ambas, quando seres dotados conseguem literalmente FALAR através do pensamento, se comunicando dessa maneira com outras mentes dotadas da mesma habilidade.
E se a palavra é de natureza solar, combina mais com seu estilo o ato de improvisação do que a repetição da memória (lunar). E além de tudo isso, frases e palavras saídas do improviso têm mais chance de saírem do coração do que as frases e palavras extraídas do banco de memória.
Esse tipo de palavra é que se torna um verdadeiro ímã de atração da presença espiritual nas práticas.
Já foi dito, acertadamente, que a oração é o altar que invoca os Anjos.
A prática efetiva, então, tem que ser objetiva, direta ao ponto.
Se temos que usar a palavra e o pensamento juntos, então o segredo é simplesmente falar o que pensa, e pensar o que fala. Ou seja, tudo o que a sua boca disser, inspirada pela criatividade do coração, que tudo isso corra, simultaneamente, em forma de imagens de visualização na sua mente.
Porque então, se palavra e pensamento combinarem, será a fusão Sol-Lua no seu campo de consciência, o mesmo que os Anjos realizam em todas as esferas da Criação, de modo análogo.
O Verbo é o coro dos Anjos, é o fogo dos Serafins, aqueles que criaram todas as coisas cantando e ardendo de amor por Deus…
Esse é um realinhamento a ser feito em busca da prática perfeita.
Porque Deus não ouve palavras… ele ouve o coração.
E que a nossa oração venha de palavras que brotam do coração naquele momento do AGORA em que estamos nos apresentando diante dele… que não costuma gostar de fórmulas repetidas… porém ama os corações que se expõem sinceros e abertos diante de seu Amor providencial.
Palavra e pensamento, o solar e lunar da energia do espírito consciente.
Verbo fecunda a energia mental, como o Sol e a Lua, Yang e Yin, como a semente fecunda a terra virgem preparada.
Ou ainda, o pincel e a tela vazia, a caneta e o caderno em branco, o buril e a pedra bruta.
Palavra e pensamento, a palavra é o buril, e a pedra sem forma, a energia da mente.
Só usando os dois é que conseguimos dar forma e vida a todas as esculturas do nosso pensamento.
(abaixo, a imagem de uma das esculturas mais perfeitas do mundo antigo, o Êxtase de Santa Teresa, de Bernini)
JP em 31.01.2020