É capaz de haver pouca coisa menos consensual do que as dietas, porém num ponto a maioria parece estar de acordo: comer de três em três horas ajuda a emagrecer de forma mais saudável do que se fizesse jejum. Mas será que é mesmo assim?
São uma espécie de verdades absolutas da nutrição: o corpo é uma máquina que precisa regularmente de combustível para funcionar, deixá-lo sem energia desacelera o metabolismo, logo comer a cada três horas ajuda a emagrecer, muito mais do que qualquer jejum. Certo?
Errado, a avaliar por um estudo do biólogo celular japonês Yoshinori Ohsumi, Nobel de Medicina de 2016 e investigador do Instituto de Tecnologia de Tóquio, galardoado justamente por ter descoberto e esclarecido os mecanismos da autofagia – um processo fundamental para a degradação e reciclagem dos componentes das células.
Segundo o cientista, o corpo necessita de fazer pausas mais longas entre refeições de modo a permitir a reciclagem das células degradadas. Para chegar a essa conclusão, começou por deixar células de levedura «com fome», sujeitando-as a uma situação de stress para forçá-las a reagir, tal como sucede no organismo quando passa longos períodos em jejum.
Foi quando percebeu que a degradação das células gerava outra ação: nos reservatórios de reciclagem, após 30 minutos de fome, acumulavam-se muitas pequenas vesículas que, nas células, servem para o transporte celular até ao lisossoma (organelos responsáveis por degradar partes inúteis de células e estruturas potencialmente nocivas).
A autofagia acontece sobretudo quando o corpo está em estado de jejum.
Para a comitiva de médicos que integrou o Nobel, a autofagia acontece sobretudo quando o corpo está em estado de jejum e «pode rapidamente fornecer combustível para a renovação de componentes celulares, sendo essencial para responder à fome e outros tipos de stress».
Tudo benefícios que se perdem se nos alimentarmos infalivelmente de três em três horas.