O que é mais importante? Agradar a Vontade do Criador ou a vontade das criaturas?
O ponto de partida está no mandamento maior da lei espiritual de todas as doutrinas do passado, que Jesus sintetizou de modo maravilhoso:
“Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo!”
Veja bem, o mandamento já implica numa condicional: Amar a Deus sobre todas as coisas, até acima do semelhante (criatura humana), o que significa que, em muitas situações, será inevitável a colisão com outras pessoas quando surgirem conflitos e oposições de caráter espiritual.
Exemplos na vida prática são muitos.
Quantos de nós já não entrou em colisão com família, com pessoas da família e amigos, por diferenças espirituais inconciliáveis?
Cristo também dizia em seus ensinamentos que haveria a necessidade do desapego a bens materiais e até à família, quando estes elementos se tornassem um obstáculo entre o discípulo que busca e o Mestre que ensina e conduz o discipulo nas estradas do autoconhecimento que liberta.
Claro, aquela alma que ama o seu Criador, e que alinha seu espírito e sua consciência com a fonte de tudo, que é Deus, estará sempre desenvolvendo um tipo de amor consciente ao próximo que não significa expressamente satisfazer o desejo das pessoas o tempo todo. Na verdade, amar o próximo quase nunca significa realizar a vontade do ego dos outros.
Há uma balança precisa de equilíbrio que precisa ser regulada aqui, e o ponto de partida é a nossa relação com Deus, a fonte, o Criador de nós mesmos. Se a conexão espiritual com a Fonte está em dia, e se a relação consigo mesmo está em perfeito equilíbrio, a tendência natural das coisas é que nos encontremos em equiíbrio também nas relações com os demais.
Agora, pessoas que não tem relação alguma com o Criador na sua espiritualidade tendem a desenvolver problemas de relacionamento consigo mesmas, e se isso acontece, essas pessoas tendem a desenvolver baixa estima, insegurança, medo e até estados depressivos de alma que as atiram num falso relacionamento com os outros, e para suprir essas falhas internas, elas tendem a viver a vida em “expectativa de cardume”, ou mesmo na expectativa do próprio parceiro, num relacionamento mais próximo… ou seja, por causa de uma deficiência da própria individualidade consciente e relacionamento consigo próprio, elas procurarão ao máximo se tornarem parecidas com o modelo de consciência coletiva, para não perder a sensação de “grupo” que lhes dá falsa segurança, e nesse modelo, agradar a vontade dos outros para se sentir sempre “agrupada” é bastante comum.
Pessoas assim geralmente não suportam a solidão que as faz confrontar consigo mesmas, e de tudo farão para agradar os outros em sua forma de pensar e agir. Porque, na sua insegurança, são facilmente impressionáveis e manipuláveis pela opinião pública e pelas tendências de pensamento coletivo aos quais se modelam justamente por falta de um individualidade consciente cultivada no relacionamento com a fonte, o Criador.
Por isso, elas colocarão em primeiro lugar a boa impressão que procuram causar nos outros com suas palavras, ideias e atitudes (aquela coisa toda do politicamente correto se ajusta perfeitamente para elas), mesmo que traiam a sua consciência, agindo assim como “hipócritas fabricados pela engenharia social”.
Os outros se tornam a sua falsa base psicológica.
Geralmente as posturas conscientes, procedentes do cultivo da individualidade consciente, colidem-se com a opinião popular, que marcha na direção contrária da Verdade, nutrida apenas por um sistema de valores que visa o controle do cardume manipulado.
E essa mesma opinião popular, que trai sua consciência todos os dias, é que irá qualificar os que pensam “diferente” e de modo mais consciente e individual de impositores de suas próprias ideias e de arrogantes, de doutrinadores e de outros muitos adjetivos, todas as vezes em que a sua forma homogênea e linear de pensar seja ferida por uma postura autêntica e sincera dos pensadores livres, que lutam para preservar o conteúdo de seus próprios valores conscientes diante da invasão da mente coletiva manipulada pelo pensamento massificado.
Porque uma multidão pensando e agindo da mesma forma é bem mais controlável do que uma sociedade de seres pensantes, conscientes e livres a partir da própria individualidade consciente e desperta, conectada com a Fonte da Realidade.
Por essa razão é que os ensinamentos de Cristo declaram que quando você se torna um discípulo da verdade, começa a colidir de frente com os bandos humanos que vivem na mentira, a partir dos seus familiares, que passam a tomá-lo como ovelha negra incorrigível, da perspectiva deles.
É um preço a ser pago por todo aquele que optou pelo caminho da Verdade, que anda longe das estradas largas e cheias de multidões pensando parecido.
Todo pensador solitário e consciente da fonte se torna um pensador livre, mesmo que ande pelo deserto da vida… livre de si mesmo e daquele bando, cardume ou gado, sempre marchando na direção contrária, sempre preferindo agradar os outros do que a si mesmo.
Infelizmente, o adormecimento é sempre coletivo.
Mas o despertar é sempre individual.
JP em 21.03.2021