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Cientistas conseguem escrever na água pela primeira vez na história

Indo de riscos em pedras à aplicação de tinta no papel e litografia em elétrons, o ser humano inventou a escrita há cerca de 30 mil anos e nunca mais parou — novos métodos para nos comunicar com o uso da linguagem gráfica continuam surgindo. Agora, talvez a mais inusitada das maneiras de escrever foi inventada, já que uma equipe de físicos alemães conseguiu escrever na água, e em outros meio fluídicos, a propósito.

Comentando a metodologia do feito, os autores lembram que a maioria das técnicas clássicas de escrita envolvem as mesmas abordagens, ou seja, riscando ou pintando uma linha. Em um substrato (meio) sólido, forças moleculares fortes ajudam a manter o formato desenhado fixo, o que não ocorre em superfícies mergulhadas em fluidos.

Algumas das formas que os cientistas conseguiram criar com o método inédito de escrita na água (Imagem: Möller et al./Small)

Pesquisas anteriores já haviam mostrado avanços na escrita debaixo d’água, usando técnicas como litografia de sondas ou polimerização, e hoje são vendidos comercialmente cadernos especiais para que mergulhadores possam escrever durante viagens ao fundo do mar. Escrever na água propriamente dita, no entanto, era algo inédito.

Como manter a escrita na água?

Todos os métodos de escrita que conhecemos ainda precisam de um substrato, até mesmo a escrita aérea, na qual os aviões usam o ar como tela para deixar uma mensagem em fumaça. Para escrever em fluidos, a técnica teria de ser robusta o bastante para vencer a dispersão rápida das linhas, além de ter uma “caneta” pequena o suficiente para não criar muita turbulência no fluido a ser marcado. Quanto menor o objeto se movendo em um fluido, menos vórtices (ou redemoinhos) ele irá criar.

Na escala macro, como, por exemplo, a escrita aérea, a caneta (no caso, o avião) é muito menor do que as letras escritas, eliminando esse problema. Na água, a coisa teria de ficar muito, muito menor. A solução foi criar uma microesfera feita de material baseado em troca de íons entre 20 e 50 micrômetros de diâmetro — um micrômetro é mil vezes menor do que um milímetro. A microesfera é tão pequena em relação ao reservatório de “tinta” que não gera vórtice algum na água.

Alguns gráficos e cálculos acerca da capacidade de escrever em água do método — à esquerda, no topo, a representação de como funciona, com a microesfera deslizando na água e deixando a trajetória marcada com a “tinta” de pH (Imagem: Möller et al./Small)

A minúscula caneta muda o pH local da água, atraindo partículas de tinta para as áreas por onde passa, deixando a região marcada. Ao inclinar o recipiente da água, é possível escrever através do movimento da microesfera no líquido, acumulando a tinta pela trajetória de maneira contínua.

Nos primeiros testes, o recipiente foi movido com as mãos, mas os cientistas logo produziram um “balançador” programável, mais preciso. Com isso, em um recipiente do tamanho de uma moeda, foi possível desenhar um padrão simples no formato de uma casa do tamanho do pingo de um “i” em fonte 18, visível no microscópio.

O feito, apesar de ser uma curiosidade interessante, é apenas uma prova de conceito, segundo os cientistas — um trabalho preliminar feito para mostrar que a técnica é possível, mais uma maneira de expressar a linguagem humana em um meio que poucos imaginariam.

No futuro, os pesquisadores pretendem reproduzir qualquer escrita com linhas contínuas e até mesmo fazer quebras entre as letras ao desligar o processo de troca de íons e ligá-lo novamente, ou apagar e corrigir o que já foi escrito. Também será possível tornar a tinta “adesiva” sensível à luz UV para ajudar a fixar as linhas e letras no lugar por mais tempo.

Fonte: Small

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