Acréscimos de um diálogo:
Para tocar nesse amor que voce menciona, a meditação tem que começar verdadeira em sua intenção. Ela não esbarrará na energia divina se a intenção for materialista, ainda que velada. É claro, pode ser mesmo que essa fagulha de amor esteja presente dentro da falsa intenção ou do desejo camuflado nas primeiras experiências, e então, sim, como voce coloca, aos poucos, a barreira do ego centrado nas ilusões vai desmoronando, é verdade sim.
Mas voce deve se lembrar que para que a partícula do amor cresça e se expanda na direção da liberação final, ela precisa de alimento.
Ela precisa de repetidas investidas na direção da fonte. Caso contrário, ela nunca sobreviverá ao impulso inicial do primeiro impacto e dos sucessos episódicos do começo, e também se perderá. O coração é o juiz da questão, ele vai atrair do universo o que tem e sustém dentro de suas intenções. Se ele for sábio, conservará a partícula inicial do amor puro e a sustentará até o final.
Mas o mais comum é que o ego vença o braço de ferro, e até os impactos do início sejam afogados pelo desejo carnal e as ilusões da matéria e dos cinco sentidos. A fagulha do amor precisa de alimento, precisa da virtude da constância. Caso contrário, será apenas uma bela foto num álbum de recordações.
Por isso, na prática, pouquíssimos obtém sucesso e êxito. E depois, confundem facilmente desejos ou sentimentalismo com amor. Quando então a fonte se fecha e reabrí-la se torna cada vez mais difícil com o passar do tempo. Seremos como sementes.
O semeador lança centenas delas no campo, mas a maioria expira. Algumas são sufocadas por espinheiros (as dificuldades) outras, não lançam raízes por causa do terreno pedregoso (solo das ações incompatíveis), e outras são devoradas por pássaros à beira do caminho (a influência dos terceiros, dos profanos, a interferência dos mundanos e das atividades mundanas). Só poucas germinam e dão fruto.
A semente do amor está dentro de cada coração. Mas poucas germinam. Até as que experimentam o impulso inicial.
Sei que, uma vez que voce experimenta a energia divina, ainda que numa pequena faixa, será transformado para sempre. Mas resultados concretos vão exigir toda a lista de virtudes que torna o aprendiz um mestre. Mestre da paciência, mestre da persistência, mestre da fé. Este é o alimento da semente, da faísca inicial.
Lembra do caráter dos gênios? Aqueles que conseguem materializar as visões divinas em sua mente? Pois é,,, Sem isso, até o mais nobre e puro amor que agitou teu coração numa noite qualquer, irá perecer, afogado pela densidade do tempo e as muitas distrações do caminho.
Mas convenhamos, e é importante frisar isto, meditação é uma coisa, é a gravidade do centro, da fonte, do trono de Deus no coração, mas ficar simplesmente com os olhos fechados e a mente divagando para os lados…as pessoas estão trocando as coisas, o verdadeiro sentido da prática está se perdendo, como todo o resto…voce sabe, também está na estrada, a meditação, como todo o resto das práticas que compõem a busca do discípulo exigem sempre muita paciência, persistência e fé, sempre voltaremos a elas em todas as estações do caminho, e sem elas, até as melhores das intenções falece com o tempo.
A chama inicial é preciosa, é como plantinha rara ou sementinha divina em nossas mãos, temos que cuidá-la dos espinheiros, das pedras e dos pássaros devoradores da estrada. Fechar os olhos e divagar a mente não é meditar. É qualquer coisa menos meditar.
Falo da meditação real e não de um ato mecânico. Falo do coração desejoso pelo amor divino (como bem colocastes) e não do ego desejando posses e até salvação. Sim, o ego também se interessa pela própria salvação. As trevas dentro do homem agem de forma sutil, é preciso a vigilância de um soldado desperto para contê-la. Só a chispa do amor no coração pode realizar a atração com a fonte, caso contrário, tudo se torna facilmente ato mecânico sem valor, porque sem poder de chegar a Deus.
Enfim, conquistar a nota mais pura da meditação exigirá do devoto todas as virtudes que compõem o quadro da almejada perfeição. A meditação é seletiva, o caminho é seletivo. De mil que me procuram, um me encontra. De mil que me encontram, um me segue, e de mil que me seguem, um é meu. Bem sabemos o quanto é difícil, e que religião e modismos não são a mesma coisa.
Mas bem melhor a moda de meditar do que a moda de gastar toda a energia vital nas baladas. Oxalá as pessoas trocassem as noitadas pelas meditações, ainda que imperfeitas, a energia seria muito diferente no planeta! Porém, o próprio sistema oculto é que cria todas estas armadilhas, para que as pessoas se tornam cada vez mais isoladas e afastadas da fonte. E numa cultura de internet que está deixando as pessoas cada vez mais imediatistas, onde tudo tem que ser para agora, pedir fé, paciência e perseverança é pedir muito, é pedir demais.
Mas Deus é paciente, é perseverante e ainda tem fé nas pessoas. E sabe que muitas sementes vão germinar. Com certeza, e como plantinhas, aos poucos crescerão na direção do Sol, dia a dia, esquentadas por seu calor e guiadas por sua luz… a luz e o calor do amor. A meditação é apenas a lembrança desse Amor que o homem perdeu no mundo. Meditar é reavivar a memória desse amor original, de quando éramos UM com Deus.
Ou… deixar que o Deus de dentro responda ao Deus de fora… no final, meditar é buscar o caminho da grande reintegração… religare, Yoga, fusão…e o primeiro passo é voltar-se para dentro. Para o centro, o TAO.
Abandonar-se à gravidade e à atração do espírito que puxa para dentro, e lutar contra as centrífugas forças do tempo e da matéria, as ilusões nos arrastando para o lado oposto, o lado de fora… eis a estrada real…o homem é como um planeta que deve escolher, ou se entrega á atração do Sol para se fundir com Ele no centro do sistema, ou se arrasta pela inércia, pelo lado externo da curva, e se perde na solidão do espaço, da negação e do congelamento do eu…e o conhecimento hermético fornece as chaves para que possamos vencer a força inercial da matéria, que atira o planetinha que somos nós sempre para o lado oposto da gravidade do Sol interior, a inércia do corpo, do desejo, das ilusões, das falsas atrações e distrações deste mundo…
Chaves como concentração, controle da respiração, mantras, etc… não fomos deixados sem armas por Deus nessa batalha contra a matéria. O Espírito pode vencer, se dispor de paciência, perseverança e fé, sempre. Não é o começar que nos dá a vitória, mas o persistir. O esforço de manter é muito maior que o esforço de começar. Milhões começam, mas poucos terminam…