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Os leprosos da sociedade

 

 

 

As parábolas de Jesus Cristo são maravilhosas porque cada uma delas encontra uma nota fundamental de verdade que é válida até os nossos dias, dadas as suas simbologias ocultas.

Uma delas nos fala dos leprosos da sociedade.

Naquela época, as pessoas que eram portadoras da lepra eram condenadas a viverem afastadas, isoladas, tinham que deixar suas família e morar num outro local junto somente com outros doentes. E ocorreu que os dez leprosos, de longe, levantaram a voz, dizendo:

“Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós”
(Lc 17:13).

 

Hoje, a Lepra ou Hanseníase tem cura, mas não naquela época, de modo que os leprosos representavam todos os excluídos, os perseguidos, os humilhados, aqueles que sofrem discriminação por serem, de alguma forma, diferentes, e são segregados violentamente pela sociedade de consumo que usa como régua a “normalidade” para medir os iguais e separá-los dos diferentes.

Isso sempre existiu, desde que o mundo é mundo, e toda pessoa que, de alguma forma, é e foi diferente dos outros, desde os tempos da escola, sabe o que significa ser diferente no mundo dos iguais.

Cristo, no entanto, abraçou os leprosos da sociedade, e não mediu e nem julgou ninguém em função de sua cor, aparência, posses materiais ou passado de vida… a todos amou, a todos perdoou e a todos desejou curar, e mesmo que nem todos ele pudesse curar (muitos ainda tinham que passar por suas provações), com certeza, a todos eles emprestou sua força espiritual para que suportassem sua cruz até o fim, como ele mesmo suportou.

Hoje, os mendigos de rua podem ser considerados os leprosos da sociedade, e raros são os corações humanos que, andando pelas ruas, onde estes leprosos sociais se amontoam, estendem a mão para ajudar, ou sequer viram o olhar para reparar uma alma gemendo de fome, de frio, de abandono e solidão.

Muitas vezes, acionamos a língua julgadora e atiramos nossas sentenças contra os mendigos, dizendo:

Ah, são vagabundos, ou alcóolatras, ou drogados, ou perdedores, como que tentando justificar a nossa indiferença cruel para com essa classe sofrida da humanidade.

Mas não devemos nunca fazer isso, quem de nós tem consciência do passado, dos problemas e de toda carga de complicações que, atravessando uma vida, a fez parar na sarjeta?

Entre os antigos judeus, a lepra era considerada repulsiva, e era qualificada como um sinal de Deus para marcar de alguma forma uma alma com sérios problemas morais, como se fosse uma contaminação espiritual profunda que explodia na pele e desfigurava a pessoa. Os leprosos representavam todos os deformados morais que eram violentamente segregados pelas sociedades “sadias”, sendo exilados de suas cidades, e banidos ao deserto.

Mas Cristo abraçou estes leprosos e os curou.

 

 

Cristo olhou fundo nos seus olhos, e diante dele, os leprosos não mais sentiram medo ou vergonha.
Apenas amor, o amor intenso e mágico de um Filho de Deus que olhou para sua lepra de outra forma, não com nojo ou julgamentos, mas com compaixão.

Da próxima vez que você andar pelas ruas e encontrar os muitos leprosos da sociedade que por aí circulam, nunca se esqueça de que, um dia, poderemos nos encontrar na mesma situação deles.

E da mesma forma como os temos tratado até agora, seremos tratados também pelos outros.

Às vezes, basta de nossa parte apenas um olhar, uma palavra, um bom dia, um pedaço de pão ou um pequeno agasalho para que possamos amenizar a grande dor que eles sentem, e principalmente, aquela sensação de já estarem mortos em vida e que ninguém mais se importa com eles, amontoados nas ruas como se realmente fossem parte do lixo urbano.

E nesse dia, quem sabe, com um simples gesto, possamos curar a lepra de uma alma qualquer, que, apesar de continuar nas ruas em pobreza, ao menos sentirá um abraço sincero em seu coração de um alguém que a abordou de forma diferente, não com nojo, medo ou diferença… mas com amor.

Muitos tem lepra na pele, mas a maldade abre feridas na alma.
Esta é a lepra referida na parábola: maldades no coração que desfiguram nossa beleza espiritual interior.

O ego é a lepra da alma!

“A Caridade é superior a todas as virtudes”
Paulo

 

JP em 19.11.2019

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