Espiritualidade

O gosto do fruto do conhecimento

Páginas bíblicas muito interessantes tocam nesse ponto.
O gosto do conhecimento que, como qualquer fruto, pode ser bom ou mau, ter gosto doce ou amargo, ser saudável ou venenoso.

A forma metafórica como esse símbolo, o fruto, é ali usada, resulta interessante analisar, até porque nossos cinco sentidos ingerem todo o tempo os frutos do conhecimento para o crescimento – ou decaimento – de nossa alma encarnada.

A primeira referência acontece no Gênesis, quando Deus formou o jardim, a morada original, e o carregou de árvores e bons frutos.
Certamente que isso tem duplo sentido, porque frutos sempre foram uma alimentação perfeita, saudável, nutritiva e não invasiva contra qualquer forma de vida. Para isso servem os frutos, para alimentar os seres e propagar as sementes.

Mas também existe o contexto de FRUTO como experiência.
No caso do estilo de vida do homem criado no Éden, semelhante aos anjos, o fruto da sexualidade animal era terminantemente proibido. Nisso residia o contexto deste fruto, até porque o termo usado no hebraico para Sexo e Conhecimento DHwT) eram sinônimos.

O homem e a mulher se uniam em uma só carne não num contexto sexual, e sim, num contexto espiritual de almas gêmeas, porque almas gêmeas foram criadas ali. E esse contexto espiritual de união se relacionava aos frutos da árvore da vida, dos quais eles podiam se nutrir, com prodigalidade.

Frutos do amor divino combinados ao amor humano em suas notas espirituais mais puras e elevadas, que se tornaram inteiramente desconhecidos pela humanidade moderna após sua queda nos instintos sem controle.

Em outras palavras. a experiência sexual era vetada para a classe humana original, que era uma classe Anjo. Outras passagens do Gênesis confirmam isso, como o capítulo 6, a queda dos Anjos e sua interação com mulheres humanas em obras sexuais que geraram os Nefilim, termo que significa “caídos” do céu… Anunnaki significa “os que desceram” ou “vieram” do céu, outro contexto.

Frutos da árvore da Vida eram a representação das mais altas energias de comunhão dos humanos com Deus, frutos associados diretamente com a vibração da palavra e da presença de Deus.
Mas os frutos da ciência (ou sexualidade) do bem e do mal, estes cancelariam aquela presença divina no corpo físico do homem, que, após a queda, se tornou tão inconsciente, mortal e corruptível quanto ás formas de vida inferior.

Perdeu a sua conexão com o espírito por assumir a escolha da experiência animal, sexual.
Os frutos eram da ciência do Bem e do Mal porque tem finalidade boa no aspecto reprodutivo (para os animais) sendo proibidos para os da classe Anjo.
Jesus Cristo forneceu discursos nos evangelhos que confirmam isso.

Diante do livre-arbítrio, todo o tipo de experiência disponível à alma encarnada é, simbolicamente, um fruto, e esse fruto poderá lhe dar amargura ou doçura. Mas seja como for, todos os frutos dão experiência, o que é conhecimento.
DAAT, na linguagem da tora hebraica.

Uma coisa muito interessante e simétrica entre Moisés e João acontece aqui.
Moisés escreveu cinco livros e versou sobre as primeiras leis e ciências da humanidade, do ponto de vista do Judaismo antigo. João evangelista também têm cinco livros no Novo Testamento, e versou sobre as mais profundas reflexões sobre o Evangelho, a revelação de Cristo e os impactos para o mundo de tudo isso no correr do tempo e de juízo (Apocalipse).
Eles são o Alfa e o ômega da Bíblia, e somando seus nomes na Cabala:

MShH + IHUChNN = 345 + 129 = 474, o valor exato de DAAT (DHwT), conhecimento.

O fruto da árvore proibida era doce como o mel, mas venenoso para a alma.
Bem, estamos cercados neste mundo de experiências do tipo, doces como o mel nos cinco sentidos mas altamente nocivas para a mente e para a alma humana, por seu efeitos secundários.

Estamos num mundo cercados de árvores de experiência e respectivos frutos, e o labor dos profetas do passado foi o de tentar apontar o que era bom e o que era mau para a saúde do corpo e da alma em relação a todas estas experiências disponíveis, e muitos dos argumentos bíblicos se encontram alinhados com as pesquisas científicas mais modernas.

A Bíblia sempre falou muito da excelência do alimento chamado Azeite, ou da Uva.
E a medicina moderna não cansa de celebrar o valor nutritivo destes frutos da terra.
Há muita base em todas aquelas observâncias.

A alma se alimenta com os frutos da experiência da mesma forma que o corpo se alimenta com os frutos da terra. Existem frutos que fazem bem e frutos que fazem mal em ambos os casos. E quanto mais consciente esteja a alma, mais discernimento ela encontrará nos frutos que escolhe para ingerir e aumentar sua saúde física e mental.

Numa outra passagem do velho Testamento, o rei Saul proibiu todos os seus soldados de comerem num determinado dia, um ato de penitência ou obediência, por causa de uma certa guerra.
Apenas o seu filho Jonatan, que não tinha ouvido o decreto do pai, comeu naquele dia, e comeu mel.
E a Bíblia diz;
“Quando ele comeu o doce mel, seus olhos se abriram!”

Essa mesma coordenada reflexiva aparece na ocasião da experiência do fruto sexual de Adão e Eva.
Seus olhos se abriram e eles tiveram consciência do bem e do mal, como os deuses, no sentido de que perderam a inocência primitiva e passaram a conhecer o outro lado da moeda, chamado o mal, o pecado, o vício, o ego, a fraqueza moral e carnal, e por efeito, a doença, a dor, o sofrimento, a perda da liberdade, da consciência, da espiritualidade livre… enfim, a perda da vida, porque se tornaram mortais sobre a Terra.

A consciência do bem e do mal não significa que você necessariamente precise repetir e insistir num determinado mal detectado. Naturalmente, a experiência do Èden parecia não ter outra direção, por causa da novidade da experiência diante deles. Mas uma vez que a experiência foi assimilada pela consciência, não haverá mais desculpas ou justificativas para todo e qualquer mal perseverando nas ações de qualquer um.

Há outra passagem mais interessante, no Apocalipse, que reflete outra passagem do Velho Testamento, envolvendo o profeta Ezequiel. Nos primeiros capítulos, Deus envia ao profeta o rolo de um livro, que, escrito com coisas boas e ruins, foi ingerido pelo profeta, que disse que seus olhos se abriram, e que o gosto do livro foi doce na boca mas amargo no ventre.

O Apocalipse usou essa referência para ilustrar como uma das duas testemunhas se levantou, como Ezequiel, para profetizar. Comendo um livro com as mesmas características, doce e amargo, e que tinha por missão abrir os olhos do profeta e prepará-lo para a sua missão de profetizar para muitos povos, tribos, nações, reis e linguas.

Neste caso, o fruto do conhecimento (o Livro de Deus) não é maligno ou proibido, por vir das mãos de Deus e de uma ordem expressa sua. Esse livro que causa doçura na boca e amargura no ventre significa que a mente do profeta teve a visão de céus e infernos rolando ao redor de um mesmo eixo cósmico de equilíbrio… fins e começos, dor e alegria, tristeza e liberdade, salvação e condenação, ego e espírito, bem e mal, verdade e mentira, caminho e engano, luz e ilusão… enfim, o profeta compreendeu um pedacinho da visão de Deus Onisciente, e no meio de todo o universo dualístico existente, ele também sentiu prazer ao contemplar as excelências da verdade bem como toda a dor ao perceber todo o sofrimento chegando para o mundo por causa dos grandes pecados da humanidade, movidas pela mentira de tudo.

Todo profeta tem essa experiência.
Todo profeta, quando come esse fruto do conhecimento das Mãos de Deus, experimenta a doçura do contato com as grandes maravilhas da verdade divina, bem como as grandes dores causadas pela escravidão humana aos vícios e à mentira que governa este mundo.

Todo profeta dessa categoria se torna um sofredor, mesmo no paraíso.

Ou como dizem algumas páginas da Sabedoria budista,
ele se torna como um Bodhisattwa da Compaixão, porque não vai descansar mais e nem sentir felicidade completa enquanto haja uma lágrima de dor correndo em um rosto, por causa de sofrimentos causados devido a ignorância que, agora, o Buda da Luz e o profeta do Altíssimo está habilitado a curar, ainda que não possa aliviar sua própria dor.

Ele nunca mais será o mesmo depois que ingerir o fruto do conhecimento das Mãos de Deus.
Sempre estará sofrendo pelos seus irmãos, sempre estará sofrendo por ver com antecipação todas as tragédias que aguardam a humanidade rebelde, sem que possa mudar muita coisa, apenas lhe cabendo ensinar e esperar que alguns despertem também.

Existem mentiras que viciam a mente da mesma forma como existem substâncias químicas que viciam o corpo.
E é preciso se libertar de tudo isso. O vicio controla a mente, e isso não pode ser tido como algo bom, em tempo algum e por ninguém. Se o vício está no controle da sua vida, você tem problemas sérios.

O efeito do fruto do conhecimento divino é a Iluminação.
Mas ela é como um parto. Nunca acontece sem dor, sem muita dor… uma dor muito solitária.

“Conhecei a Verdade e a Verdade vos libertará”!

Este é o fruto do conhecimento das Mãos de Deus.
E alguém já viu libertação sem luta, sem dor, sem sofrimento e sem dificuldades a serem superadas?
A própria Cruz do Filho de Deus é o maior testemunho disso…

JP em 07.01.2021

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