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Qual a diferença entre dor e sofrimento?

Sofrimento e dor não são a mesma coisa.

A dor é inerente à existência, mas o SOFRIMENTO é a forma como cada um reage à dor, suportando-a ou não.

A forma como cada pessoa reage ao mesmo sofrimento se torna assim um verdadeiro termômetro para medir sua raiz de alma e força interior nos tempos de crise.

A dor pode ser a mesma para duas pessoas, mas conforme seja a atitude mental de uma e de outra perante a mesma dor, ela pode ser realmente atenuada ou amplificada. Se o medo, o desespero e a revolta interna dominarem a mente diante da dor, ela será amplificada, mas se a resignação, a paciência e a fé assistirem uma nobre alma em sua dor, com certeza ela poderá ser atenuada.

Isso tem até explicações neurológicas que poderíamos apresentar, quando a própria mente fornece alívio ao processo, se sua atitude interna for de equilíbrio e paciência, ou a própria mente intensifica a dor se ela focalizar sua atenção no problema em si, e não na solução.

Porque toda dor tem um fundo de cura. A dor não aparece em vão.
Ela sempre está associada a algum tipo de alerta para o corpo doente, ou para a alma doente. Dores da alma? Existem, por exemplo, a terrível DEPRESSÃO. Não estaria a Depressão anunciando um grande vazio na tua alma, e que precisa urgentemente ser preenchida por algo que dê sentido à tua vida?
O pior doente é aquele que focaliza a mente na dor, e não na cura.
A depressão é o foco no vazio existencial da alma, e não nas coisas que podem preenchê-la e curá-la.

Por que a dor existe?
Porque só a dor pode limitar um ego desenfreado em sua busca insaciável.
Se o estômago não ficasse cheio e gerasse fastio por uma reação natural, tenho certeza que teria muita gente por aí que comeria até explodir literalmente… isso é só um exemplo.

A dor costuma bater nas portas do corpo-templo reclamando por causa dos excessos cometidos e pecados contra a carne, que se fazem prejudiciais e causam doenças. Para toda medida de prazer indevido que o corpo experimenta, as células memorizam igual medida de dor a ser experimentada adiante, e nada vai impedir essa ação reflexa do corpo ao longo dos anos. Faz parte de sua inteligência orgânica orquestrada pelo espírito que habita dentro.

Dizem que tudo o que atiramos no mar na juventude, o mar devolverá em nossas praias adiante, quando a idade chegar… isso deveria ser um bom conselho para guiar os jovens, no sentido de evitarem os abusos e as seduções que a pouca idade oferece…

Se voce interpreta a dor com uma cura para o seu corpo e alma, então sua mente não se revoltará, e a dor será abrandada e melhor suportada.
Mas se voce interpretar a dor como um incômodo que está atrapalhando o seu corpo na busca por prazeres, então a mente se rebelará e a dor voltará amplificada.

Basicamente é assim que funciona.
A própria Biblia apresenta parábolas interessantes a este respeito, e em geral usa dois animais nesta simbologia dual, o porco e o cordeiro. Isso porque o porco berra e faz um enorme escândalo quando vai ser sacrificado, o oposto do cordeiro, que derruba apenas algumas lágrimas em silêncio e resignação diante do abate.

Na escola da vida, teoria não significa muita coisa, porque muita gente com língua de ouro em termos de erudição se comporta não como cordeiros resignados, mas como porcos na hora da provação maior.

E muitas pessoas simples, modestas, sem instrução, quando a provação chega em suas vidas, elas se comportam como nobres, como verdadeiras almas notáveis, caladas, resignadas, suportando tudo sem blasfemar, sem reclamar, sem murmurar, com uma força interior tão grande que geralmente envergonha os que estão por perto e reclamam de tudo, de qualquer cisco no olho.

A alma que tem raiz interior forte e bem alicerçada no espírito, esta se comportará como cordeiro, mas aquela que tem sua raiz e centro de gravidade nos prazeres carnais e futilidades da vida passageira, com toda certeza, esta berrará como um porco diante das provações.

Resumindo: se voce encarar a dor como um obstáculo ao corpo, que fica temporariamente privado da busca de prazer pela limitação imposta pela própria dor, então irá protestar como um porco raivoso, porque estão tirando dele o prazer sensorial ao qual ele já se acostumou… mas se voce encarar a dor como um remédio para o corpo e para a alma, compreendendo sua raiz e sua direção física e mesmo moral, então chegará ao ponto de louvar a dor, resignando-se como um Cordeiro silencioso e nobre diante dela. Porque o cordeiro é a alma que já aprendeu que a vida não se resume a uma busca interminável por prazeres físicos, mas a vida se revela como escola de aprendizado e evolução espiritual. E para tanto, a dor é inevitável.

Muitos processos dolorosos do corpo são memórias de vidas passadas, por isso vemos muitas vezes crianças passando por sofrimentos tremendos que sua curta existência parece não justificar, ou mesmo pessoas de vida equilibrada que caem com doenças que não podem ter justificações em abusos cometidos na sua vida. São caminhos da Justiça e da Providência Divina cheios de precisão, ainda que nos pareçam cruéis ou injustos na maioria das vezes… a dor nunca é cruel. O que é cruel é o ego, ele é que nos escraviza aos abusos geradores da dor. Assim ensinou Buda, com toda a perfeição de suas letras iluminadas.
Nesses casos, a dor será libertadora.

Assim, dor é uma coisa, mas sofrimento é como você vai encará-la.
É como voce se comporta diante do mau tempo, abençoando a chuva que molha as plantas ou amaldiçoando-a por que você não pode sair para se divertir.

Todos os grandes santos, profetas, mártires, homens e mulheres de Deus que a História reconhece e aplaude, foram talhados na dor, na provação, e fizeram do seu sofrimento a maior de suas escolas, onde mais aprenderam e evoluíram espiritualmente, eliminando seus egos, desapegando-se mais depressa das ilusões da matéria, da carne e dos sentidos.

Porque tanto a dor como o prazer são interpretações neurológicas do cérebro, e está provado, a meditação, a interiorização, podem condicionar o seu cérebro a uma maior resistência a dor, isso quando ele também resiste aos prazeres, abusos e excessos carnais. Quem é fraco para tais prazeres, abusos e excessos carnais, com certeza, será fraco, muito fraco para a dor.

Iogues e monges são o melhor exemplo dessa disciplina mental que chega a controlar e bem suportar a dor.. por puro ato reflexo do condicionamento que eles colocam contra os abusos da carne e vícios sensoriais de prazer.

São nessas horas, nas horas de provações e privações, que todos os belos discursos desaparecem no ar, todas as bravatas caem por terra, e toda casca externa racha e mostra o que se é por dentro. Se a língua louvará ou amaldiçoará a Mão que a purifica… se a alma realmente é dona de FORÇA INTERIOR, ou se tudo o que disse antes foi da boca para fora…

Se encara a dor como obstáculo ao prazer corporal ou se encara a dor como tônico depurativo para o corpo e para a alma.
Para o porco, a dor é uma insuportável maldição.
Mas para o cordeiro, a dor é uma bênção de cura e libertação vinda de Deus.

O Arcano 12 do Taro traz todas estas lições: O Sacrifício!

DORES SÃO ESPINHOS.
HÁ ESPINHOS QUE PRODUZEM URTIGAS, E HÁ ESPINHOS QUE PRODUZEM ROSAS.
Dos espinhos de uma, sai ardume, e dos espinhos da outra, perfume.
TUDO DEPENDE DA SEIVA QUE CORRE EM TUA ALMA…

JP em 13.06.2019
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